Amigos do Fingidor

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

A poesia é necessária?

 

História

Alexei Bueno

  

Não é minha esta casa, aí entrarei no entanto.

Quebrarei o portão, marcharei entre as flores,

Encherei meu pulmão com os estranhos odores

Do jardim adubado a sêmen, sangue e pranto.

 

Porei a porta abaixo, enfrentarei o espanto

Dos vultos me fitando; e apesar dos bolores

Envergarei sem medo os trajes de idas cores,

Nas suas mãos beberei, entoarei seu canto!

 

Com os corpos rolarei de milhões de mulheres

Sem corpo. Ei-los que já me saúdam e me aclamam,

Meus perdidos avós, desamparados seres.

 

Estendem-me suas mãos como a um filho que os salva.

Deles vim, mas é a mim que eles agora clamam

A vida, como a um pai, um sol sonhando na alva.