Amigos do Fingidor

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Somos todos rionegrinos

 Pedro Lucas Lindoso


Para nós, amazonenses, o rio é tudo. Fonte de alimento e vida. Meio de transporte. É também uma referência de nascimento, de ter uma naturalidade vinculada ao rio pelo qual a sua cidade é banhada. Um sentimento de amor e pertencimento. Meu saudoso pai, que nasceu em Manicoré, nas barrancas do Rio Madeira, sempre dizia: quem nasce no Madeira é gente da melhor qualidade!

Como nasci em Manaus sempre achei que deveria considerar o rio Negro o rio mais bonito do mundo. E isso não é difícil. O majestoso rio possui a maravilhosa Anavilhanas. O segundo maior arquipélago fluvial do mundo. O primeiro fica um pouco mais acima, em Barcelos, o Mariuá. Anavilhanas tem cerca de 400 ilhotas, já o Mariuá tem mais de mil. Um colosso da natureza.

Aqui pertinho de Manaus, durante a vazante, temos lindas praias com areias brancas contrastando com as escuras, porém límpidas águas de nosso rio.

A jornalista Juliana Radler, em recente artigo publicado na imprensa local, nos alerta que “o rio Negro pede socorro”. Ela nos lembra que vivemos no Amazonas e temos a sorte de nos banharmos nas águas do Negro. Porém, estamos ameaçados pela contaminação de suas águas por metais pesados oriundos de atividades ilegais predatórias.

No artigo de Radler fiquei sabendo que o rio Whanganui, em Nova Zelândia, vital para o povo nativo Maori, ganhou personalidade jurídica, dada pelo Parlamento neozelandês. Foi reconhecida a conexão espiritual entre Iwi, a tribo dos Maoris, e o seu rio ancestral Whanganui. Para os neozelandeses o rio deve ser tratado como um indivíduo e ter direitos.

O Direito Ambiental no Brasil tem indiscutível respaldo constitucional. Há 23 povos indígenas que habitam o rio Negro. Além dos habitantes de Manaus, nossa cidade sorriso que completa 353 anos agora em outubro. Nosso rio tem um potencial turístico imenso. Basta mencionar só o encontro das Águas. Mas parece que a cidade aniversariante virou as costas para o rio que a margeia.

Precisamos fazer a nossa parte também. O rio Negro não merece os dejetos que são diariamente lançados em suas águas. Quem nasce ou mora em Manaus tem a obrigação de amar, cultuar e proteger o rio Negro. A defesa e proteção ao nosso rio deve ser atávica. Devemos transmitir aos nossos descendentes esse sentimento. É o pedido que faço a todos os que moram aqui. Uns se dizem manauaras outros manauenses. Somos todos amazonenses. O importante é amar a cidade e o seu rio. Salve o rio Negro. Devemos agir e nos expressar como verdadeiros rionegrinos.