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terça-feira, 24 de outubro de 2023

O grande nevoeiro

Pedro Lucas Lindoso

 

São Paulo é a terra da garoa. Fortaleza é conhecida pela gostosa brisa do mar. Londres tem o famoso “fog” londrino. Um nevoeiro que pode ser considerado uma instituição inglesa. Como o nosso mormaço e os ventos de Codajás.

Manaus amanheceu com um nevoeiro estranho e ameaçador. Nossa cidade enfrentou esse fenômeno insalubre e desagradável. Como se fôssemos Londres às avessas. Se a canção diz que nosso porto nunca será Liverpool, tampouco nossa metrópole terá um nevoeiro romântico e palatável como o “fog” londrino. Mesmo porque as origens são diversas.

O nosso nevoeiro, diferente do londrino, é consequência das queimadas. O caboclo amazônida faz isso desde sempre. Nessa época do ano eles queimam os roçados para prepará-lo para a chegada das chuvas. Mas isso era sempre feito em pequena escala. Agora há queimadas criminosas. E a floresta está cada dia que passa em maior perigo.

Quanto ao nevoeiro de Londres a estória é outra. Ir a Londres e não se deparar com um nevoeiro é praticamente impossível. O “fog”, como é chamado pelos britânicos, traz charme para a cidade. Normalmente faz muito frio e raramente neva em Londres. No inverno e em muitos dias do ano a cidade está envolta a essa tão conhecida neblina. O “fog” faz parte da vida e da cultura dos londrinos, como o nosso mormaço.

Entretanto, em de dezembro de 1952, há 70 anos, um grande nevoeiro cobriu toda Londres. De início, os cidadãos acreditaram que a névoa seria como as outras tantas que comumente fazem parte do cotidiano britânico. Porém, ao anoitecer, o ambiente começou a ficar estranho. O céu ficou amarelado e a cidade toda foi tomada por um cheiro de ovo podre. Aquela névoa era letal, e começou devido a um desastre ecológico de poluição que ficou marcado na história britânica.

Devido aos problemas no pós-guerra, o carvão de melhor qualidade para o aquecimento havia sido exportado Como resultado, os londrinos usaram o carvão de baixa qualidade, rico em enxofre. Isso causou o desastre ecológico conhecido como “The Great Smog”. Muitas pessoas morreram. A fumaça tóxica invadiu até os ambientes fechados.

Manaus nunca foi Liverpool, mas já foi a Paris dos trópicos.  Estaria agora em triste processo de emulação a Londres, com seu “Great Smog”. Ou seja, o que ficou na História da Inglaterra como o “Grande Nevoeiro”. Mas o que aconteceu há 70 anos, não mais se repetiu. E nós? Quando iremos controlar esse “great smog baré”. Socorro, por favor! Help, somebody help!