Amigos do Fingidor

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Gabriel saiu para almoçar 8/15

Marco Adolfs


...Tanto essa solidão é uma coisa ruim, que a própria Bíblia, escreveu Gabriel, considerou, logo de início, que seria um absurdo, após a criação de Adão, que ele ficasse só. Disse então Deus, de si para si, “Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.” Foi quando então aconteceu o nascimento de Eva – o encontro com a mãe de todos. Simples. Sombra então parou de escrever e pensou que não era a todo momento, como deixou claro antes, que a solidão era um mal. Afinal um ser humano que desejasse um pouco de paz da vida atribulada que levava deveria procurar, de vez em quando, um pouco de recolhimento e solidão. Jesus fez disso uma prática e inclusive recomendou a alguns de seus discípulos que também o fizessem. Mas um fato tornava-se crucial nesta questão de estar só ou sentir-se sozinho: as abas abertas da porta da solidão famigerada. Só poderia sentir-se só quem não tivesse uma fé firme. Com fé firme, o medo e a culpa se dissipam. Mas ter fé em quê? Na vida que é uma morte. Para um velho como ele é sempre terrível estar só; em solidão. E se ele passar mal? Quem o acudirá? E se ele se borrar todo? O velho poeta Gabriel Sombra sempre pensava nessas coisas. Afinal, era um velho. E velho é como criança. Precisa de “cuidados”. Mas logo Sombra deixou esses pensamentos de lado e passou a teorizar também, e essencialmente, sobre a necessidade que espíritos livres como ele têm de ficar algum tempo a sós. Ter uma oportunidade de travar um conhecimento consigo. Seguir aquela máxima que diz “conhece-te a ti mesmo”. Um conhecimento só conseguido com muita meditação e muita solidão também. Talvez a fé de que falassem todos fosse o caso de o ser, dito humano, não desenvolver dois fatores considerados negativos para quem deseja se relacionar: a mesquinharia e a traição. Quando estava escrevendo sobre isso, Gabriel procurou em seu arquivo interno alguma personalidade da história que pudesse citar como o máximo de mesquinharia e traição... E verdadeira solidão...