Amigos do Fingidor

domingo, 19 de junho de 2011

Falando de haikai

Jorge Tufic



Como distinguir o haikai de um trístico, em língua portuguesa, se ambos são compostos de estrofes com três versos? Talvez pelo conteúdo poético ou pela temática, se não também pela forma guilhermina, ou seja, fazendo rimar os versos primeiro e terceiro, introduzindo também rima leonina no segundo. No meu achar, contudo, desde que o trístico assuma a condição de metáfora, distinguindo-se da prosa ao ficar mais próximo de Matsuo Bashô, o dilema parece resolvido. Ou seja, ainda, as dificuldades em contornar as diferenças entre a língua japonesa e a portuguesa se atenuam com as tintas da paisagem, podendo avançar mais no terreno da meditação (zen) até que os versos da estrofe configurem uma independência maior no sentido de ampliar os domínios do significado. Como neste, de Olga Savary:

                                                                                  Cascata – ermida
                                                                                  devoção de estio
                                                                                  por um instante.

As aparentes facilidades do gênero, porém, conduzem aos excessos da hipertrofia. Mas disto padece também o soneto, a balada e demais formas fixas da poesia universal. No entanto, compensam as recolhas da espécie em livros da qualidade deste OKU, VIAJANDO COM BASHÔ, de meu amigo Carlos Verçosa (Secretaria de Cultura e Turismo do Governo do Estado da Bahia, 568 pgs), no qual se insere “A presença do haikai na poesia brasileira”, ensaio do autor, além de um prefácio de Oldegar Franco Vieira e um estudo de Octavio Paz, sem mencionar a riqueza de exemplos com que dá ao seu trabalho a dimensão exata de uma tese de mestrado.

Apenas, isto: que a segunda edição da obra inclua os haikaistas amazonenses e trate com mais respeito a contribuição de Guilherme de Almeida.