Amigos do Fingidor

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Corpo, saúde e doença na filosofia grega II



João Bosco Botelho

 

Na Grécia, entre os séculos V e IV, existiu complexa interdependência entre os conceitos produzidos pelos filósofos não médicos e pelos médicos. Algumas vezes, estavam em acordo; em outras, em completa discordância.

O autor desconhecido do livro Da Natureza Antiga discorda do dogmatismo a priori da filosofia de que todas as doenças são formadas pelo excesso de calor, frio, secura ou umidade. No Corpus Hipocraticum (cap. XIII), o autor argumenta sobre o mesmo assunto: 1. Que no caso de um doente afetado por uma alimentação cozida, não é possível dizer o que foi eliminado da dieta, se o calor, se o frio, se a umidade ou a secura; 2. Que não existe um quente absoluto que possa ser misturado para curar o frio; uma pessoa tem de tomar água quente ou vinho quente ou leite quente e a água, o vinho e o leite têm propriedades diferentes que serão mais eficazes do que o calor.

Apesar da compreensão entre médicos e filósofos de que a saúde era o produto do equilíbrio de várias forças no organismo, existiu outra corrente de pensamento, provavelmente liderada por Políbio, genro de Hipócrates, que sob a influência da ideia dos quatro elementos da Empédocles – fogo, ar, água e a terra – e da noção do equilíbrio justo de Anaximandro, produziu a teoria dos quatro humores fundamentais – sanguíneo, linfático, bilioso amarelo e  bilioso negro –  para explicar a causa das doenças.

A teoria dos quatro humores, atribuída a Políbio, está no livro Da Natureza Antiga: “O corpo humano contém sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra; que estes elementos constituem a natureza do corpo e são responsáveis pelas dores que se sente e pela saúde que se goza. A saúde atinge o seu máximo quando estas coisas estão na devida proporção em relação uma às outras, no que toca à sua composição, força e volume além de estarem devidamente misturadas. A dor surge quando há excesso ou falta de uma destas coisas, ou quando uma delas se isola no corpo em vez de estar misturada com as outras.”

Essa teoria norteou os rumos da Medicina e transpassou o tempo e dominou o diagnóstico e a terapêutica por quase vinte séculos.