Inácio
Oliveira
Havia
aberto a casa, uma réstia de luz entrava pela janela. Era o fim de um domingo
como tantos outros. Passou o dedo pela tela luminosa do celular, dezenas de
contatos se somavam na tela colorida. Agrupados em ordem alfabética estava todo
um círculo de gente que ele conhecia, acessíveis a um toque. Bastaria
selecionar o nome da pessoa e pressionar o botão verde no canto inferior da
tela para que alguém, em algum lugar do mundo, recebesse uma chamada sua. Ficou
olhando para o celular na palma da mão, pensando em quantas coisas incríveis se
podia fazer com aquele pequeno aparelho. Séculos de conhecimento e tecnologia
na palma da sua mão. Se uma pessoa no século XVIII tomasse conhecimento de um
aparelho igual a esse pensaria nisso como fruto de um poderoso sortilégio. Mas
ele, sozinho em casa, olhando para a lista de contatos do seu celular não se
sente poderoso, ao contrário, de alguma forma tudo isso o oprime e ele se sente
ainda mais sozinho.
Observa
um a um os ícones no celular que o ligavam às redes sociais, o f
feliz e azulado do facebook, o pássaro verde do twitter, o whatsapp e todos os
outros aplicativos do celular. Havia um que encontrava os melhores restaurantes
e bares num raio de 20 km, mas ele não sente a menor vontade de ir a nenhum bar
ou restaurante. Olha novamente os contatos no celular, não há ninguém para quem
ele queira ligar, e se ligasse não saberia o que dizer.
Deixa
o celular sobre a mesa e fica olhando para ele. A tela esmaece e em seguida fica
escura. Ele fica olhando um tempo mais para o celular, gostaria que alguém
ligasse para ele, mesmo que fosse engano; principalmente que fosse engano. Por
fim ele desiste do celular e liga o computador. Rapidamente a tela do
computador fica azul e a janela do Windows se abre fazendo um barulhinho
alegre. Abre a página inicial do Google e fica olhando para as letras coloridas
do buscador, estranhamente não consegue pensar em nada que queira ver na
internet. Isso o deprime porque ele é como alguém que vai a um lugar onde tem tudo,
e mesmo assim não consegue se interessar por nada.
Acaba
acessando a página do facebook. Na página inicial do seu perfil ele pode ver
inúmeras publicações de outros usuários amigos seus. Fotos de animais de
estimação, de roupas, de viagem, de aniversários, frases espirituosas e cartões
animados que distinguem aqueles que as publicam e compartilham como pessoas
inteligentes e felizes. Logo essas publicações o aborrecem. Ele abre a página de
amigos, 857 amigos, não sabe se esse número é pouco ou muito para os padrões do
facebook, de qualquer maneira 857 amigos não são pouca coisa. Se ele reunisse
todos os seus amigos do facebook em um só lugar ocuparia uma área de 170 m2.
No entanto, a observar as primeiras pessoas que apareceram na página, nenhuma delas
pode se dizer de fato que é sua amiga. Pensou que talvez a palavra amigo nesse
contexto houvesse ganhado outro significado. No menu lateral da página ele pode
ver dezenas de pontinhos verdes, o que significa que outras pessoas neste
momento estão fazendo o mesmo que ele, diante de um computador ou no celular.
Sente pena dessas pessoas, sente pena de si mesmo.
No
topo da página, o facebook lhe pergunta “em que você está pensando?”. “Em que
eu estou pensando, essa é boa, em que estou pensando?”. Ele ri sozinho diante
do computador, um riso amargo. Anoitece, a sala onde ele ligou o computador
está completamente escura. Apenas a luz da tela reflete em seu rosto. Depois de
algum tempo diante do computador sua vista começa a cansar; ele desliga a
máquina e só então percebe que o sol já se pôs, há muito tempo.