David Almeida
Em que lugar vamos
parar, “parentada” com esse ritual de violência generalizada? Todo dia ao ler
um jornal, ligar uma televisão, rádio, ou ter contato com qualquer meio de
comunicação, a violência está estampada de todas as formas em todos os segmentos
da sociedade, fomentada pela miséria, espelhada e espalhada pela má
distribuição de renda, causando a famigerada desigualdade social, distanciando
cada vez mais o cidadão de sua cidadania, e a perda total da sua identidade.
Os políticos, nossos
representantes “legais” – quase sem exceção –, continuam com o mesmo discurso:
que vai tudo bem; o novo projeto de segurança está dando certo; mais escolas
foram construídas; hospitais funcionando a todo vapor; o interior está mais
assistido do que antes, é papo para convencer, emocionar o mais duro coração de
pedra. Mas, na realidade continua tudo como era antes. As coisas vão se
acumulando, só mudando de embalagem, para enganar os “eleitrouxas”, que tem as
bênçãos do “Deus” do candidato “Fulano de Tal”. Estamos acuados, Parente!
O que temos que fazer é
acordar, olhar em nossa volta para ter a consciência do que somos e
representamos pra eles, porque nós os elegemos como nossos fiéis
representantes. Não precisamos estar cercados por tudo o quanto é amargo e
negro da vida, neste Planeta ainda Azul. Porque ainda há esperança de mudarmos
tudo a partir de nós mesmos, para não sermos enganados mais.
Só eles têm o direito
de viver bem neste País, são os acumuladores de riquezas, que
inescrupulosamente, subtraem dos cofres públicos. Tendo em seu “Deus” a
fortaleza maior, estão imunes a qualquer atropelo e constroem os seus Paraísos
aqui mesmo, Parente!
O impressionante é que,
quanto mais suas fortunas crescem, mais seu “Deus” os protegem, e, o povo, mais
empobrecido se agiganta na sua fé; se agarra, se amarra, seguindo, se alongando
nas procissões, nas caminhadas sob orações, trôpego, entorpecido, à espera de
um milagre, por menor que seja, para amenizar seu sofrimento. Estamos
encurralados, Parente!
– Parente, eu sei,
estamos num beco sem saída.
– Estamos sim, Parente,
e só existe uma saída: pra cima.
– Mas, Parente, como
vamos sair por cima, se não temos asas?
– Aí é que está,
Parente... Quem sabe com muita reza, num acontece um milagrezinho e a gente
cria asas? Afinal de contas, dizem que Deus é brasileiro...
– É mesmo, Parente... Olha,
formiga que é formiga, que nem sabe rezar, cria asas, imagine a gente.
– Mas, Parente, a gente
de asas vai ficar que nem duas borboletas, num é? A nossa situação é difícil;
se correr, o bicho pega, e se ficar, o bicho come. Acho melhor esperar o bicho,
e esquecer esse negócio de asas, né?
– É, vamos torcer,
Parente, quem sabe aquele balão que trouxe uma vez o boi Garantido pra dentro
da arena num aparece e tira a gente dessa enrascada. Eu sou Garantido, e tu?
– Sou Caprichoso,
Parente, mas eu acho que nessa condição vou virar a casaca.
Portanto, “parentada”,
vamos virar a casaca, a mesa, a urna, o que for preciso: sem medo, porque a
força está nas nossas mãos. Só assim poderemos vislumbrar um futuro melhor para
o beco sem saída.