Amigos do Fingidor

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Lábios que beijei 26


Zemaria Pinto
Sara


Uma negra baiana sob o sol amazônico, Sara cheirava a chuva, terra molhada, folha de mato. Pura entrega, Sara nada me pedia além de carinho. E neste ponto era muito exigente. Clandestinos, não tínhamos lugar certo para nos amar, mas sempre terminávamos no quarto do segundo piso de sua casa – bêbados. Mais velha que eu, Sara transbordava sensualidade, com um recheio de vasta vivência. Uma ocasião, duas da manhã, entramos em uma casa de strip no centro da cidade. Pedimos dois uísques e ficamos nos divertindo com o estranhamento causado: a mulherada amuada, pela concorrência desleal; os homens me fulminando de inveja. Começamos a nos abraçar e beijar, até que o gerente ou algo parecido nos chamou a atenção, dizendo que aquele comportamento não era adequado para aquela casa. E Sara: – mas isto não é um puteiro?! De volta à Bahia, trocamos promessas de um breve reencontro que jamais aconteceu. Quando casei pela segunda vez, recebi uma cartinha bem-humorada e carinhosa, desejando-me felicidades. E nunca mais soube da negra Sara.