Zemaria Pinto
Sara
Uma negra baiana sob o
sol amazônico, Sara cheirava a chuva, terra molhada, folha de mato. Pura
entrega, Sara nada me pedia além de carinho. E neste ponto era muito exigente.
Clandestinos, não tínhamos lugar certo para nos amar, mas sempre terminávamos
no quarto do segundo piso de sua casa – bêbados. Mais velha que eu, Sara
transbordava sensualidade, com um recheio de vasta vivência. Uma ocasião, duas
da manhã, entramos em uma casa de strip
no centro da cidade. Pedimos dois uísques e ficamos nos divertindo com o
estranhamento causado: a mulherada amuada, pela concorrência desleal; os homens
me fulminando de inveja. Começamos a nos abraçar e beijar, até que o gerente ou
algo parecido nos chamou a atenção, dizendo que aquele comportamento não era
adequado para aquela casa. E Sara: – mas isto não é um puteiro?! De volta à
Bahia, trocamos promessas de um breve reencontro que jamais aconteceu. Quando
casei pela segunda vez, recebi uma cartinha bem-humorada e carinhosa, desejando-me
felicidades. E nunca mais soube da negra Sara.