Zemaria Pinto
Ilsa
Ilsa, dos cabelos
falsamente louros e pele de abacate passado – dizia que tinha 16 anos, mas o
corpo ainda em formação denunciava 13 ou 14 –, era apenas uma entre centenas de
prostitutas adolescentes de uma cidade em ruínas: um ano após a desativação do
canteiro de obras que deu origem a Brasília, São Luís, sua principal
fornecedora, reduzira-se a um lugar de onde os homens desapareceram em busca de
um Eldorado qualquer, deixando as mulheres à mercê dos que se dispunham a pagar
por elas. A falta de voos diários me obrigava a uma permanência de cinco dias,
quando minha missão no banco não me exigia mais que três. Ao final do terceiro
dia, levaram-me a um bar, no centro da cidade, onde tocava uma melancólica
música latina, falando de traições e vinganças. Ela estava lá, entre tantas
outras meninas de aluguel. Não era a mais bonita ou a mais fornida, mas tinha
os olhos docemente blues. Levei-a
para o hotel, com receio de que não permitissem a sua entrada – fizeram de
conta que ela nem existia. Não desgrudamos mais um só instante. E logo deixei
de me incomodar com as possíveis críticas ao inusitado casal – o homem branco
maduro com a meninaputa pretinha. Foram dois dias de êxtase total: a menininha
fazia sexo como poucas mulheres que eu conhecera. Algumas horas antes de ir
para o aeroporto, depois de nova sessão de sexo arrasa-quarteirão, senti-me
estranhamente sonolento. Acordei no dia seguinte, sem dinheiro e sem o relógio
suíço, presente de Cláudia. Como era sábado, tive que ficar mais dois dias em
São Luís. Mas não procurei Ilsa. Feitas as contas, até que foi barato.