Amigos do Fingidor

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Lábios que beijei 27


Zemaria Pinto

Ilsa


Ilsa, dos cabelos falsamente louros e pele de abacate passado – dizia que tinha 16 anos, mas o corpo ainda em formação denunciava 13 ou 14 –, era apenas uma entre centenas de prostitutas adolescentes de uma cidade em ruínas: um ano após a desativação do canteiro de obras que deu origem a Brasília, São Luís, sua principal fornecedora, reduzira-se a um lugar de onde os homens desapareceram em busca de um Eldorado qualquer, deixando as mulheres à mercê dos que se dispunham a pagar por elas. A falta de voos diários me obrigava a uma permanência de cinco dias, quando minha missão no banco não me exigia mais que três. Ao final do terceiro dia, levaram-me a um bar, no centro da cidade, onde tocava uma melancólica música latina, falando de traições e vinganças. Ela estava lá, entre tantas outras meninas de aluguel. Não era a mais bonita ou a mais fornida, mas tinha os olhos docemente blues. Levei-a para o hotel, com receio de que não permitissem a sua entrada – fizeram de conta que ela nem existia. Não desgrudamos mais um só instante. E logo deixei de me incomodar com as possíveis críticas ao inusitado casal – o homem branco maduro com a meninaputa pretinha. Foram dois dias de êxtase total: a menininha fazia sexo como poucas mulheres que eu conhecera. Algumas horas antes de ir para o aeroporto, depois de nova sessão de sexo arrasa-quarteirão, senti-me estranhamente sonolento. Acordei no dia seguinte, sem dinheiro e sem o relógio suíço, presente de Cláudia. Como era sábado, tive que ficar mais dois dias em São Luís. Mas não procurei Ilsa. Feitas as contas, até que foi barato.