João Bosco Botelho
A busca teórica do limite da matéria viva onde o normal
transforma-se em doença, se é que existe a doença e o normal, complica ainda
mais no momento em que resgatamos da física quântica a aplicação da
partícula-onda à Medicina.
Ao decompor a célula considerada doente, por exemplo, a
célula cancerosa, chega-se ao binômio partícula-onda, no qual, teoricamente, não
é possível admitir as mesmas qualidades tanto no átomo oriundo da célula normal
quanto no da célula doente.
A resistência à igualdade entre as partículas-ondas é
estruturada na manifestação da vida, oriunda da célula normal e da célula
cancerosa, é observável de modo diferente.
Se aceitarmos que a física está correta, isto é, o
binômio partícula-onda tem qualidades iguais tanto na célula cancerosa quanto
na sadia, a doença seria uma manifestação da vida. Caso contrário, se for uma
imprecisão da física, tornar-se-ia imperioso repensar a doença com conteúdo
diferente do binômio partícula-onda, por essa razão, observada de modo diverso do
da saúde.
Como
a análise retrospectiva induz à crítica, é importante refletir sobre os limites
da cura de ontem e os de hoje. Se formos capazes de rir dos conceitos teóricos
hipocráticos, do século 4 a.C., não devemos esquecer que, presumidamente, no
futuro, a Medicina do século 21 será motivo de zombaria.
Ao longo de quarenta anos como médico e
professor, tendo realizado mais de setenta mil consultas e cinco mil cirurgias,
mesmo com o domínio das publicações internacionais recentes, não raras vezes,
me senti incompetente para diminuir o sofrimento dos doentes, especialmente,
nos cânceres sem resposta ao tratamento.
Entre esses doentes, após explicarmos as grandes
limitações da Medicina, alguns nos perguntavam sobre a busca de tratamentos
alternativos. A nossa resposta continua sendo a mesma: os limites da cura são imprecisos.
As correntes que ligam as expressões de cura
com o conjunto social, tanto no espaço profano quanto no sagrado, mostram-se
tão sólidas que impulsionam a certeza de serem tão fortes quanto a cor da pele
ou qualquer outra característica física determinada pela mensagem genética.
Nunca
é demais repetir que a Medicina oficial está longe de compreender a questão
fundamental dos saberes médicos: em qual dimensão da matéria o normal se transforma
em patológico, se é que existe normal e patológico.
Extraordinariamente,
esse fato nunca esmoreceu a luta dos médicos contra a dor e morte prematura.