Amigos do Fingidor

terça-feira, 4 de abril de 2017

1º de abril


Pedro Lucas Lindoso


Comecei o dia da mentira ligando para um colega advogado em Brasília. Disse-lhe que estava chegando para conversarmos sobre uns processos no STJ – Superior Tribunal de Justiça. Ele me disse que se não fosse 1º de abril ele me buscaria no aeroporto. Os meus amigos e familiares já sabem que eu gosto de pegadinhas nesse dia.
Há várias versões sobre a origem dessas brincadeiras. Uma delas diz que o 1º de abril surgiu na França. Lá os trotes são conhecidos como “plaisanteries”.
Os mineiros propagam que o primeiro de abril no Brasil começou a ser difundido em Minas Gerais. Houve uma revista chamada A Mentira, lançada em 1º de abril de 1828, com a notícia do falecimento de dom Pedro, desmentida no dia seguinte.
Lucinda Dias, professora aposentada de Brasília, é socialista desde o jardim da Infância. Daquelas que tem o retrato do Che Guevara na parede da sala. Lucinda sempre foi apaixonada pelo Fidel Castro. Durante vários anos, no dia 1º de abril, telefonei para Lucinda dizendo que Fidel havia morrido. Ela sempre caia na pegadinha.
Com Fidel morto, pensei em matar o Putin. Não ia ter impacto. Ela não gosta dele. Liguei para Lucinda e disse que tinham prendido o Lula. Ela começou a passar mal. É petista de carteirinha. Logo tive que dizer que era mentira de 1º de abril. Nunca ouvi tanto palavrão. Nem quando eu matava o Fidel.
Achei o trote interessante. E liguei para o Almeidinha. É o oposto de Lucinda. Ainda bem que não se conhecem. Militar reformado e ultraconservador, Almeidinha diz para todo mundo que é de direita e detesta comunista. Odeia o PT, antes mesmo de o partido ser fundado. Eis o diálogo:
– Você viu na televisão? Prenderam o Lula.
– Usaram algemas? Pergunta o Almeidinha.
Eu lhe disse que não. Não houve necessidade. Foi tudo muito discreto. Almeidinha respondeu:
– Não acredito. Deve ser mentira de 1º de abril.
Se nem o Almeidinha acredita que o Lula pode ser preso é porque ele provavelmente não será.
Eu me divirto muito nesse dia. Não deixo de curtir as “plaisanteries”, como dizem os franceses.