Pedro Lucas Lindoso
Dia 19 de abril. Dia do
Índio. É um chavão e letra de música. Mas é sempre bom repetir: “Todo dia era
dia de índio”. A verdade é que falta respeito aos que aqui já estavam quando as
caravelas chegaram.
Não vou falar sobre
reservas, aldeias e tribos nômades aqui da Amazônia. Nem sobre os privilegiados
índios isolados. Preocupam-me os índios urbanos esquecidos na periferia de
nossa Manaus.
A FUNAI foi recentemente
reestruturada. Em governo neoliberal deve ter sido enxugada e quiçá esteja em extinção.
E os indígenas eternamente desassistidos. Principalmente, os que estão nas
cidades. Em Manaus, onde se encontra uma das maiores populações de índios urbanos
no Brasil, a presença indígena é, quase sempre, ocultada.
Há ainda os que, sendo netos ou descendentes
diretos de etnias importantes da região, não se reconhecem como índios. Reconhecem-se
como amazonenses ou “caboclo aqui da terra”.
Há muitos, todavia, que se reconhecem indígenas. Eles
entendem que vieram morar aqui e que ajudaram a construir Manaus. Têm
consciência, e com razão, que sua história está também inscrita neste
território. Estão por aqui os Baré, Tukano, Desana, Baniwa, dentre outros
originários da região do alto e médio rio Negro. E vinculam-se socialmente e
economicamente pelos casamentos e outros aspectos.
O certo é que continuam fazendo parte deste espaço
urbano e selvagem. Mas selvagem em outra conotação. Selva de pedra, asfalto
esburacado, sem saneamento, mobilidade precária. Inseridos nesse caos urbano de
dois milhões de habitantes. Na maioria das vezes, na condição de
marginalizados. Moram na periferia, principalmente nas Zonas Leste e Norte de
Manaus.
Quando morei em Brasília, a FUNAI se localizava no
início das quadras 700. Há casas nessa área e muitas se transformaram em pensão
ou pequenos hotéis. Houve época em que o órgão abrigava índios do sudeste e
centro-oeste que vinham à FUNAI tratar dos interesses das suas aldeias. Há uma
praça por lá. Certa feita ouvi conversa de dois adolescentes. Um dizia que o
pai havia servido no Exército, em Manaus. O jovem gostara muito daqui. O outro
perguntou se havia muitos índios na nossa cidade. Vendo um grupo de pataxós da
Bahia, conversando na praça respondeu: “Aqui
em Brasília tem mais”.
Galdino
Jesus dos Santos, um líder da etnia pataxó, foi queimado vivo
enquanto dormia em um abrigo de ônibus nessa área. O crime foi praticado por
cinco jovens brasilienses. Ironia: era 19 de abril de 1997. Dia do Índio.