Amigos do Fingidor

terça-feira, 11 de abril de 2017

Gravador metido a besta


Pedro Lucas Lindoso


Sou um homem do século passado e contemplo esses jovens nascidos ou que se tornaram adolescentes no novo milênio com admiração e respeito.
Admiração, porque vejo que eles já nascem conectados e familiarizados com a mais sofisticada high tech. E fazem uso dessas novas tecnologias com a mesma acuidade com que minha geração abria um estojo de lápis e canetas esferográficas para fazer provas em papel almaço.
Respeito, porque não posso prescindir de seus conhecimentos dessas tecnologias para sobreviver. Inclusive, profissionalmente. Os advogados hoje só podem fazer seus protocolos judiciais eletronicamente. Ou virtualmente, como se diz. E mesmo após treinamentos e cursos de peticionamento eletrônico, o sistema precisa de manutenção. Há ajustes a serem feitos eventualmente nos computadores dos usuários.
Quando menino, a coisa mais moderna que tinha em nossa sala de visitas era uma eletrola, que comportava vários LPs a serem tocados sucessivamente. Para quem não sabe, LP ou long play são esses discos de vinil de cor preta que ainda circulam por aí, entre saudosistas e colecionadores.
Vi, admirado, a chegada e a grande utilização do FAX, hoje objeto considerado do tempo dos Flintstones.
Uma celebridade dizia outro dia na TV que no início de carreira dava muitos autógrafos. Hoje só querem “selfies”. E haja fotos! E por falar em TVs, as de antigamente ficavam desajustadas ou sem sintonia na horizontal e na vertical. Usava-se até Bombril para sintonizar melhor! Sintoniza aí a TV, menino! Ouvi muito isso. Para os que não sabem o que é sintonizar, trata-se de ajustar a frequência de ressonância da TV ou do rádio ao comprimento da onda transmitida pela estação emissora. Tive que aprender isso em Física para poder passar no Vestibular, outra coisa que parece não existir mais.
Quando me casei, há mais de trinta anos, um dos presentes mais bem recebidos foi uma secretária eletrônica, comprada na Zona Franca de Manaus.
Um sobrinho adolescente e nascido já no século 21 estava curioso em saber o que era uma secretária eletrônica. E eu lhe disse:
– Era um gravador metido a besta, que atendia as ligações de telefone fixo. Não havia celular! Coisas do século passado!