Amigos do Fingidor

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Influências da medicina grega



João Bosco Botelho

É grande a influência da Medicina grega no vasto domínio territorial romano. Após a terceira guerra púnica, os romanos consolidaram o grande império no Mediterrâneo. Nos anos seguintes, muitos médicos emigraram para territórios romanos e alguns intelectuais resistiram à Medicina grega hipocrática. O historiador Marco Pórcio Catão, no século 2 d.C., expôs a crítica: “Os gregos decidiram matar todos os bárbaros com a Medicina e a ainda cobram por isto”. E em carta dirigida ao filho foi enfático: “Proíbo-te de recorrer aos médicos.”
O espírito legislador romano não deixou de abordar as atividades médicas. Com a regulamentação, os médicos constituíram categoria profissional definida, tanto entre os homens livres quanto entre os escravos.
No o império de Adriano, no século 2 d.C., os médicos eram dispensados do serviço militar e quase todas as cidades romanas dispunham de assistência médica pública.
Em torno do século 4 d.C., a profissão médica foi severamente fiscalizada e foi instituído rigoroso exame para todos que quisessem exercer a profissão. O império romano subvencionava os estudantes de Medicina, que, em troca, eram obrigados a prestar assistência aos pobres.
Existem registros da proibição do aborto como método anticoncepcional e negar o atendimento a qualquer doente, sob risco de castigo corporal e multa. Nessa mesma época, sob o império de Diocleciano, no ano de 300, um édito do Imperador impunha como condição para entrar na escola de Medicina, a apresentação de certificado de boa conduta fornecido pelo comando militar da cidade de origem.
A diferenciação entre médicos e cirurgiões foi reforçada. Nesse sentido, Cícero falava dos médicos verdadeiros, o que corresponderia aos clínicos gerais de hoje. Em seus versos, o erudito romano registrou as especialidades médicas: “Cascelio extirpa ou cura os doentes; tu Igino, queimas os cílios que irritam os olhos, Eros elimina as tristes cicatrizes dos servos e Hermes goza de fama de ser o Podalírio das hérnias.”
Os historiadores da Medicina acreditam que o grande número de especialistas na Medicina romana tenha sido consequência não somente dos progressos técnicos, mas principalmente porque as especialidades eram mais lucrativas para quem as exercia.
Alguns médicos especialistas romanos como Stertínio, conseguiram formar grande fortuna como fruto do trabalho médico. Provavelmente, em consequência dos abusos nos lucros obtidos por alguns médicos, no ano de 368, o imperador Valentiano proibiu que os médicos empregados do Império recebessem dinheiro dos doentes pobres.
Todos esses problemas pecuniários não impediram o aparecimento de grandes expoentes na Medicina romana. Entre eles, o mais destacado foi Galeno, considerado o sucessor de Hipócrates e que influenciaria decididamente a Medicina medieval.
Cláudio Galeno nasceu em Pérgamo, na Ásia Menor, no ano de 130. Foi sem dúvida o mais famoso médico do seu tempo. As obras, a maioria perdida, abordavam a anatomia, a fisiologia, a patologia, a sintomatologia e a terapêutica. Foram publicadas em Veneza, em 1538, e constituiu fonte de consulta dos médicos medievais.
Cláudio Galeno reforçou a teoria de Hipócrates ao admitir que a predominância de determinado humor (fleuma, bile amarela, sangue e bile preta) determinaria o aparecimento de um tipo específico de temperamento (fleumático, colérico, sanguíneo, melancólico) que marcaria, definitivamente, as relações entre a saúde e a doença das pessoas na vida social.
Professo do monoteísmo, a leitura dos textos de Galeno tornou-se obrigatória tanto nas universidades cristãs do medievo europeu quanto nas árabes. A teoria dos Quatro Temperamentos, como seguimento à teoria dos Quatro Humores, se manteve admitida até o século 18.