Amigos do Fingidor

terça-feira, 6 de junho de 2017

O poder do KWY



Pedro Lucas Lindoso

Os irmãos Joesley e Wesley corromperam vários políticos. Foram morar nos Estados Unidos. Deram uma banana para o Brasil. Pediram desculpas. Como brasileiro, não as aceito. Corrupção ativa é crime quando feita com o próprio dinheiro. No caso foi feita com dinheiro do BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social.
Em Goiás, como no resto do Brasil, inclusive aqui no meu querido Amazonas, é chique usar KWY nos nomes. O uso de dois “ll” ou dois “tt” também.  Parece que dá sorte ou prestígio. Ou ambos. Até o juiz que apurava a operação, ilustre estudioso e competente amazonense, Dr. Vallisney, tem esse privilégio.
Já Marcelo Odebrecht não teve a mesma sorte. Apesar do impactante nome de origem europeia, ODEBRECHT não tem KW ou Y, nem mesmo uma letrinha dobrada sequer.
Enquanto Marcelo pegou dez anos de cana, os irmãos “ley”, Joesley e Wesley, nenhum dia. Nem mesmo no regime aberto, fechado ou escancarado. E a tornozeleira? O Marcelo, coitado, vai usar o adereço por cinco anos. Quem manda ser engenheiro, falar inglês e francês fluentemente. Moer carne tem mais prestígio que construir pontes, estradas e hidroelétricas. Se fosse batizado como Mark ou William teria mais sorte.
O pior mesmo é terem proibido o Marcelo de sair do país até 2025. Até lá o Brasil já vai ter comemorado 200 anos do Grito do Ipiranga. Enquanto isso os irmãos “ley” estarão morando em Nova Iorque, na Quinta Avenida, no Olympic Tower. Prédio construído pelo Onassis. Fica pertinho da Catedral de Saint Patrick, dos melhores restaurantes, da Broadway e das lojas Rolex e Prada. Podem rezar, comer e se divertir à vontade.
Shakespeare, no seu famoso Romeu e Julieta, legou para o mundo, na fala de Julieta: "Que há num simples nome? O que chamamos rosa, com outro nome não teria igual perfume?"
No caso de Marcelo Odebrecht parece que faltou um KWY ou pelo menos uma letra dobrada.
O alfabeto português, nos termos do Acordo firmado entre Portugal, Brasil e ex-colônias em 1945, baseava-se no alfabeto latino original, com 23 letras, sem as letras K, W e Y. O Acordo Ortográfico de 1990 restaurou o K Y e introduziu o W, fazendo o alfabeto português possuir 26 letras.
Ora, quem pode e tem grana para influenciar as leis e a constituição de um país, pode facilmente influenciar um acordo ortográfico. É o poder do KWY.