João
Bosco Botelho
A história está repleta de dados confirmando a existência,
desde tempos imemoriais, dos curadores e adivinhos.
É necessário entender as práticas dos curadores e adivinhos
como história de longa evolução, sob o enfoque dinâmico das relações sociais,
para que possamos compreendê-los como agentes de coesão social.
Até hoje, discute-se se essas pessoas especializadas em curar
e adivinhar têm a qualidade especial, o dom que as distingam das outras.
Enquanto a ciência não tiver resposta, continuará prevalecendo o sentido
bíblico (Tg 1, 17): “Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vem do alto e
desce do Pai das Luzes”, isto é, estritamente expresso na linguagem religiosa.
Essa constatação ficou clara a partir da melhor compreensão
da escrita cuneiforme, em algumas tábuas de argila, encontradas nos sítios
arqueológicos babilônicos, esclarecendo que as palavras sortilégio, malefício,
pecado, doença e sofrimento, são expressas na mesma palavra.
Por outro lado, é possível evidenciar que os curadores e
adivinhos, em muitos contextos históricos, exerceram função equivalente na
organização social. Talvez por esta razão, os tratados divinatórios e os
prognósticos médicos estiveram ligados desde os primeiros registros.
Parece lógico pressupor que a posse do dom, desde as
primeiras cidades, acrescentou mais evidência a quem o possuía, colocando-o em
destaque na comunidade. Nas práticas, os adivinhos e curadores utilizaram esse
poder no trato da doença para manter privilégios e estruturar núcleos de
resistência em situação de adversidade, especialmente, após mudanças políticas
traumáticas.