Amigos do Fingidor

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Curandeiros e adivinhos 1/2


 João Bosco Botelho


A história está repleta de dados confirmando a existência, desde tempos imemoriais, dos curadores e adivinhos.
É necessário entender as práticas dos curadores e adivinhos como história de longa evolução, sob o enfoque dinâmico das relações sociais, para que possamos compreendê-los como agentes de coesão social.
Até hoje, discute-se se essas pessoas especializadas em curar e adivinhar têm a qualidade especial, o dom que as distingam das outras. Enquanto a ciência não tiver resposta, continuará prevalecendo o sentido bíblico (Tg 1, 17): “Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vem do alto e desce do Pai das Luzes”, isto é, estritamente expresso na linguagem religiosa.
Essa constatação ficou clara a partir da melhor compreensão da escrita cuneiforme, em algumas tábuas de argila, encontradas nos sítios arqueológicos babilônicos, esclarecendo que as palavras sortilégio, malefício, pecado, doença e sofrimento, são expressas na mesma palavra.
Por outro lado, é possível evidenciar que os curadores e adivinhos, em muitos contextos históricos, exerceram função equivalente na organização social. Talvez por esta razão, os tratados divinatórios e os prognósticos médicos estiveram ligados desde os primeiros registros.
Parece lógico pressupor que a posse do dom, desde as primeiras cidades, acrescentou mais evidência a quem o possuía, colocando-o em destaque na comunidade. Nas práticas, os adivinhos e curadores utilizaram esse poder no trato da doença para manter privilégios e estruturar núcleos de resistência em situação de adversidade, especialmente, após mudanças políticas traumáticas.