Amigos do Fingidor

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Satanismo medieval e as práticas médicas populares 2/2


João Bosco Botelho


Outro grupo que sofreu pesadamente a perseguição imposta pela Igreja, na Contrarreforma, sob a ética perversa da intolerante perseguição aos contrários, emergindo das universidades mantidas pelo poder eclesiástico, foram os cirurgiões-barbeiros, também pelo grande número e maior prestígio político. Com os cirurgiões, a argumentação básica da intolerância esteve assentava no fato de eles trabalharem com o sangue, praticando a sangria, cauterizando as feridas, lancetando os abscessos, imobilizando os ossos quebrados e amputando os membros gangrenados.
A resistência por parte dos médicos formados nas universidades acabou gerando, como resposta, reorganização dos cirurgiões-barbeiros. Como já foi explicado, nas linhas acima, sob a liderança inicial de Jean Pitard (1238-1315), também para se protegerem dessa intolerância, se agruparam numa confraria, sob a proteção de São Cosme e São Damião, e passaram a adotar atitudes e roupas para diferenciá-los dos barbeiros.
A Confraria de São Cosme e São Damião, que reuniu centenas de cirurgiões-barbeiros, conseguiu, em 1436, a admissão deles como alunos da Faculdade de Medicina de Paris.
Os doentes, cada vez mais numerosos, em consequência do avanço das enfermidades infecciosas, inclusive o da peste negra, na primeira metade do século 15, eram internados em lugares conhecidos como “Xenodochium pauperum, debilium et infirmorum” (Hospital dos pobres, dos fracos e dos enfermos), administrados pelos membros de várias irmandades. A Ordem dos Hospitalários de São João, dos Antoninos e do Espírito Santo foram as que mais se destacaram e acabaram ampliando a ação dessas instituições. Dessa forma, a anterior ética médica hipocrática, incorporou a ética cristã da caridade.