João Bosco Botelho
Outro grupo que sofreu pesadamente a perseguição imposta pela
Igreja, na Contrarreforma, sob a ética perversa da intolerante perseguição aos
contrários, emergindo das universidades mantidas pelo poder eclesiástico, foram
os cirurgiões-barbeiros, também pelo grande número e maior prestígio político.
Com os cirurgiões, a argumentação básica da intolerância esteve assentava no
fato de eles trabalharem com o sangue, praticando a sangria, cauterizando as
feridas, lancetando os abscessos, imobilizando os ossos quebrados e amputando
os membros gangrenados.
A resistência por parte dos médicos formados nas
universidades acabou gerando, como resposta, reorganização dos
cirurgiões-barbeiros. Como já foi explicado, nas linhas acima, sob a liderança
inicial de Jean Pitard (1238-1315), também para se protegerem dessa
intolerância, se agruparam numa confraria, sob a proteção de São Cosme e São
Damião, e passaram a adotar atitudes e roupas para diferenciá-los dos
barbeiros.
A Confraria de São Cosme e São Damião, que reuniu centenas de
cirurgiões-barbeiros, conseguiu, em 1436, a admissão deles como alunos da
Faculdade de Medicina de Paris.
Os doentes, cada vez mais numerosos, em consequência do
avanço das enfermidades infecciosas, inclusive o da peste negra, na primeira
metade do século 15, eram internados em lugares conhecidos como “Xenodochium
pauperum, debilium et infirmorum” (Hospital dos pobres, dos fracos e dos
enfermos), administrados pelos membros de várias irmandades. A Ordem dos
Hospitalários de São João, dos Antoninos e do Espírito Santo foram as que mais
se destacaram e acabaram ampliando a ação dessas instituições. Dessa forma, a
anterior ética médica hipocrática, incorporou a ética cristã da caridade.