Pedro Lucas Lindoso
Quando os amigos se vão, levam com eles parte da gente, de
nossa história de vida. Mas ficam na nossa memória afetiva os bons momentos que
vivenciamos. Inesquecíveis, portanto, as lembranças dos compartilhamentos de
alegrias, afetos e até mesmo tristezas.
Jorge Tufic faleceu em 14 de fevereiro. Neste ano, uma triste
quarta-feira de cinzas. Dia em que europeus e americanos comemoram São
Valentim. É uma data na qual se celebra a união amorosa entre casais e
namorados. Também é o dia de demonstrar afeição entre amigos. E como Jorge era
afetuoso com seus amigos! Um gentleman!
Há palavras de difícil tradução. Saudade é uma delas. É tão
plena de significados, que só nós brasileiros sabemos o que é saudade. E
estamos todos com aquela imensa saudade do Jorge Tufic. Tão grande quanto a
abrangência lexical de seu significado.
Outra difícil de
traduzir é “gentleman”. Mas todo mundo sabe o que é. Os falantes do Inglês,
claro, e nós também. Jorge foi um “gentleman”, na verdadeira e total acepção da
palavra.
Como já disse, quando alguém se vai ficam os bons momentos.
Vou relatar alguns que tive com o Jorge.
Há uns seis anos ou mais, numa memorável sexta-feira de chá
do Armando, Jorge estava em Manaus e lá compareceu. A conversa era sobre o Hino
do Amazonas. Nosso estado carecia de um hino e José Lindoso, quando governou o
Amazonas, democraticamente, mandou fazer um concurso público para a escolha do
hino. Jorge Tufic foi o vencedor. Ele me disse, sem pedir segredo, que meu pai,
José Lindoso, chamou-lhe na Governadoria para uma conversa amigável.
José Lindoso deu os parabéns pelo primeiro lugar e
consequente escolha da letra do hino. Disse-me Jorge que o governador, meio sem
jeito, perguntou-lhe se importava-se em analisar algumas pequenas sugestões ao
seu trabalho. Jorge, na sua humildade, permitiu e o hino ficou com alguns
versos modificados pelo governador.
Eu disse a ele, que mesmo respeitando a memória de meu pai,
já falecido na ocasião, considerei aquilo abuso de autoridade! Jorge discordou.
“Ele não impôs nada”. Disse-me ele. “Apenas sugeriu e ficou bem melhor! Foram
só detalhes”. Jorge era mesmo um gentleman. E humilde. Eu mesmo, no lugar dele,
não permitiria que mexessem no meu trabalho. Ora, ora!
Estava em Fortaleza a passeio. Era época de carnaval. Fui visitá-lo.
Jorge sempre muito afetuoso com os amigos. Deu-me livros de presentes.
Levou-nos para passear de carro. Lembro-me que paramos num empório com grande
sortimento de bebidas finas. “É aqui que me abasteço”, disse-me ele. Grande chazista! Vai se encontrar com Armando
de Menezes e brindar a grande amizade e companheirismo que sempre mantiveram.
Nosso último encontro foi triste. Faz menos de dois meses.
Estava novamente em Fortaleza. Em férias. Fui à missa de sétimo dia de sua
esposa, Isabel. Ele estava muito abatido e triste. Dei-lhe três abraços e lhe
disse.
Um por mim. Outro pelo Zemaria Pinto e o terceiro pelo Almir
Diniz, que mandaram que te abraçasse carinhosamente.
No nosso hino, letra de Tufic, há dois versos que considero
fenomenais:
“Aos que sonham, teu canto de lenda,
Aos que lutam, mais vida e riqueza”
Jorge, vamos continuar sonhando e lutando por mais vida e
riqueza. Lembranças para o Armando de Menezes. Com certeza tem chá lá no céu!