Sítio
Claudia Roquette-Pinto
O morro está pegando
fogo.
O ar incômodo, grosso,
faz do menor movimento um
esforço,
como andar sob outra
atmosfera,
entre panos úmidos,
mudos,
num caldo sujo de claras
em neve.
Os carros, no viaduto,
engatam sua centopeia:
olhos acesos, suor de
diesel,
ruído motor, desespero
surdo.
O sol devia estar se
pondo, agora
– mas como confirmar sua
trajetória
debaixo desta cúpula de
pó,
este céu invertido?
Olhar o mar não traz
nenhum consolo
(se ele é um cachorro
imenso, trêmulo,
vomitando uma espuma de
bile,
e vem acabar de morrer na
nossa porta).
Uma penugem antagonista
deitou nas folhas dos
crisântemos
e vai escurecendo, dia a
dia,
os olhos das margaridas,
o coração das rosas.
De madrugada,
muda na caixa
refrigerada,
a carga de agulhas cai
queimando
tímpanos, pálpebras:
O menino brincando na varanda.
Dizem que ele não percebeu.
De que outro modo poderia ainda
ter virado o rosto: – Pai!
acho que um bicho me
mordeu! assim
que a bala varou sua cabeça?