Pedro Lucas Lindoso
Sempre que tia Idalina me telefona, agora somente por WhatsApp,
temos novidade ou algo de pitoresco.
Estranhei o horário. Fiquei assustado. Noveleira como ela só,
telefonar-me enquanto passa a novela das oito é algo inusitado. Ela me disse
que agora aprendeu a usar o globo play. Tia Idalina entrou na era do streaming.
Pergunta-me se quando menino falava a língua do P. Disse à
titia que era fluente na língua do P. Ela morreu de rir. Comenta que minha
geração é que sabia brincar. Interagia-se com os companheiros de rua, com
primos e irmãos em brincadeiras saudáveis.
Contou-me que foi ao playground de seu edifício. Cariocas
chamam a área de lazer dos prédios de play. Foi pesquisar como a meninada
brinca nos dias de hoje.
– A garotada toda portando celulares. Agora é cabeça, tronco,
membros e celulares. Perguntei se sabiam a língua do P. Ninguém sabia. Uns estudavam
inglês e francês. Outros, alemão. Havia um rapazinho que além de Inglês
estudava mandarim. Ninguém sabia falar a língua do P.
Comentei com tia Idalina que essa brincadeira de criança foi
objeto de estudo em Linguística aplicada, quando fiz letras na UnB. Em Portugal
se chama Língua dos pês.
A verdade é que o uso lúdico da linguagem é comum em várias
culturas. Quando criança, eu usava a língua do P. Quanpandopo criprianpançapa,
eupeu upusapavapa apa linpinguapa dopo Pêpê.
Nos países vizinhos onde se fala o espanhol, as crianças
brincam de falar o jeringonzo. Lembro-me
de uma colega que morou na Argentina explicá-lo. Recordo-me que pode ser usado
em diferentes formas dialetais.
O Inglês não é uma Língua latina e não tem a sonoridade e a
nossa fonética. A técnica da língua do P é inaplicável. Vejam que “no”, “know”
e “now”, não tem a lógica fonética que os falantes de Português estão
acostumados.
Entretanto, nos países de Língua Inglesa também se brinca com
a linguagem. Sei que existe a Pig Latin e a Backslang, mas não sei bem como
funcionam.
E você, caro leitor, fala a língua do P?