Súplica a Iara
Marta Cortezão
Iara, leva-me contigo!
Não sou feliz aqui.
Encanta-me com teu canto
pois sei que lá não há
pranto...
Não, não sou daqui.
Leva- me contigo, Iara!
Cansei deste mundo raso.
Prefiro teu mundo de
águas,
rio profundo, sem as
mágoas
que desafinam, amiúde,
meu trovar.
Escuta, Mãe-d’água, meu
lamento
e manda a resposta pelo
vento
onde me possa alcançar teu
canto.
Vem, não te demores a
chegar
porque posso enlouquecer,
definhar.
Sei de tuas oníricas
artimanhas,
sereia da tribo guerreira
Amazonas!
Só a ti narrarei as
patranhas
que esta vida de cá me
faz contar!
Iara, cuida, não te
entretenhas!
O sol já se põe,
aproveita a hora
que corre no remanso da
boca do rio
e enche meus olhos de
pororoca.
Não tardes, Iara, tenho
vazios
carentes de tua suave e
rouca voz...
Espero-te, doce Iara,
loucamente!
Necessito beber de tua
fonte,
lançar-me num salto
demente,
tocar-te e beijar-te
meiga fronte
no afã de fugir deste
mundo doente.