Amigos do Fingidor

quinta-feira, 9 de julho de 2020

A poesia é necessária?



Súplica a Iara
Marta Cortezão


Iara, leva-me contigo!
Não sou feliz aqui.
Encanta-me com teu canto
pois sei que lá não há pranto...
Não, não sou daqui.

Leva- me contigo, Iara!
Cansei deste mundo raso.
Prefiro teu mundo de águas,
rio profundo, sem as mágoas
que desafinam, amiúde, meu trovar.

Escuta, Mãe-d’água, meu lamento
e manda a resposta pelo vento
onde me possa alcançar teu canto.
Vem, não te demores a chegar
porque posso enlouquecer, definhar.

Sei de tuas oníricas artimanhas,
sereia da tribo guerreira Amazonas!
Só a ti narrarei as patranhas
que esta vida de cá me faz contar!
Iara, cuida, não te entretenhas!

O sol já se põe, aproveita a hora
que corre no remanso da boca do rio
e enche meus olhos de pororoca.
Não tardes, Iara, tenho vazios
carentes de tua suave e rouca voz...

Espero-te, doce Iara, loucamente!
Necessito beber de tua fonte,
lançar-me num salto demente,
tocar-te e beijar-te meiga fronte
no afã de fugir deste mundo doente.