Poema do rio Negro, 1
Rogel Samuel
Em 1729 morrem no rio urubu
vinte e oito mil índios
assassinados
Mas eu estou fraco para
esta luta
e preparo a fala afiada.
A cozinheira corta o
peixe a faca
como o selo que pincela,
amara.
Três homens remam
montados nas águas.
Oh estou fraco para a
luta
preparada selva absoluta.
No caminho vendem os
armadores as ilhas
cai a chuva sobre as
lajes da tarde
que estou fraco para a
luta
preparo o corte a morte
preparo o rio, urubu,
orgulho das águas
imprópria para o passeio
público
não o passado branco
amigo
gesto sobretudo de suas
partes
que ali viram morrer 300
malocas
no rio urubu rio negro da
morte
o que passa entre o mato
aziago
É belo? É limpo? adejam
papagaios
entre mil insetos de teia
de ouro fino
o rio não esquece
o rio nunca esquece
nunca lava
a hecatombe a fila a
corrida