Amigos do Fingidor

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Faceluto

Pedro Lucas Lindoso

 

Uma das primeiras lições que o estudante de Direito aprende, é o aforismo “ubi societas, ibi jus”. Expressão também usada “Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus”: “Onde há homem, há sociedade; onde há sociedade, há Direito”.

Para a famosa antropóloga americana, já falecida, Margaret Mead a primeira evidência de civilização foi um fêmur fraturado de 15.000 anos encontrado em um sítio arqueológico. Leva-se em média cerca de seis semanas de descanso para a cicatrização de uma fratura de fêmur.

Alguém cuidou dessa pessoa. O osso quebrado foi curado. Talvez aí tenha também nascido o Direito. A vida é um direito garantido por lei. O direito à vida é o mais importante e mais discutido dentre todos os direitos abarcados pelo Código Civil Brasileiro e pela Constituição Federal.

Algum homo sapiens cuidou de seu semelhante, levando-o provavelmente para uma caverna e dando-lhe comida e assistência até sua recuperação. Deve ter sido um líder, um chefe ou um pai de família.

O processo civilizatório evoluiu e o homem, deixando de ser nômade, instala-se em pequenas comunidades. Depois vieram as vilas, cidades, as metrópoles e, hoje, as megalópoles.

As pandemias, como essa do coronavírus, ficavam restritas às pequenas comunidades, depois aos países e continentes. Até pouco tempo, a distância entre os países era medida em dias, meses e até anos. Meu avô libanês Daou emigrou para o Brasil com três irmãos no início do século passado. A única irmã deles, tia Amine emigrou para a longínqua Nova Zelândia com o marido. Na década de 1930, uma carta de Manaus para Auckland, via Rio de Janeiro e Londres, levava de seis meses até um ano.

Hoje falamos com os primos neozelandeses por e-mail e facebook. A comunicação virou instantânea. Os vírus e as epidemias também viajam com rapidez. Jatos de Paris ao Rio. De Nova Iorque a Pequim. De Londres a Sidney, varrem os céus levando passageiros, alegrias, tristezas e toda espécie de vírus e enfermidades.

Essa pandemia tem ceifado muitas vidas. Como o primitivo homem que fraturou o fêmur, todos temos direito à saúde e à vida. Hoje o problema é mundial. Precisamos de líderes para cuidar não só de uma perna, mas de milhões de infectados por esse terrível vírus.

Quanto ao Facebook, tenho evitado abri-lo. Há os amigos dos amigos e conhecidos postando notícias de luto e perdas diariamente. Facebook virou faceluto.  Xô corona.