Amigos do Fingidor

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

O afeto em tempos de pandemia

 Pedro Lucas Lindoso

 

Uma das condições de felicidade está na demonstração de afeto. Abraços, beijos e outros gestos de carinho podem transmitir paz, tranquilidade, confiança. Podem até nos curar.

Fiquei intrigado com cena de um seriado sobre a família real britânica. A falecida princesa Diana pede uma audiência com sua sogra, a rainha Elizabeth II. Foi pedir apoio, orientação e afeto. Seu casamento estava em crise. A rainha foi extremamente fria. Ao final do encontro, a soberana levanta-se, como indicando que a conversa se encerrava ali. De repente, Diana se aproxima da sogra e lhe dá um abraço. A rainha parece ter ficado chocada. Se desvencilha da nora e sai da sala.

Sabe-se que os britânicos sempre mantiveram distanciamento social. Comum em muitos países europeus e até nos Estados Unidos. Fiquei impressionado com a cena. Será que eles não se abraçam? Mesmo na intimidade da família? O protocolo real proíbe que o comum dos mortais toque nos membros da realeza. Mas não sabia que a regra valia entre eles.

Aqui em Manaus algumas pessoas conversam se tocando. Tia Idalina, por exemplo. Saiu de Manaus, mas Manaus não saiu dela. Ajeita meu colarinho. Pega no meu braço, na minha mão. Abotoa o botão de minha camisa polo, que uso desabotoada. Sou seu sobrinho, é certo. Mas faz com qualquer um com quem tenha um pouco de intimidade. 

É espantoso que o coronavírus tenha se espalhado tão fortemente em alguns países como a Inglaterra. Desde sempre e antes da pandemia, os ingleses conversam no mínimo mantendo um metro de distância entre si.

A quantidade “certa” de abraços e beijos me parece uma necessidade para sermos felizes. Desde que mutuamente consentidos e com as pessoas certas. Não é crível que se vá por aí distribuindo abraços e beijos. Também devemos ensinar as crianças que não permitam que qualquer pessoa as toquem.

Os maoris são os povos nativos da Nova Zelândia, um país colonizado por ingleses. Tenho parentes por lá. Há um cumprimento de tradição Maori chamado de hongi. As pessoas encostam suas testas e esfregam a ponta dos narizes juntas. O ato é conhecido como “respiro de vida” e acredita-se que tenha vindo dos deuses.

Essa prática deve ter dificultado muito a integração do colonizador inglês com os nativos neozelandeses. Ou não! Por lá a pandemia foi controlada com sucesso.

O fato é que a pandemia e a quarentena nos forçaram a evitar e distribuir nossos gestos de afeto. Todos nós e as pessoas que amamos merecem sentir os efeitos positivos de nosso toque. Xô corona!