Pedro Lucas Lindoso
Uma das
condições de felicidade está na demonstração de afeto. Abraços, beijos e outros
gestos de carinho podem transmitir paz, tranquilidade, confiança. Podem até nos
curar.
Fiquei
intrigado com cena de um seriado sobre a família real britânica. A falecida
princesa Diana pede uma audiência com sua sogra, a rainha Elizabeth II. Foi
pedir apoio, orientação e afeto. Seu casamento estava em crise. A rainha foi
extremamente fria. Ao final do encontro, a soberana levanta-se, como indicando
que a conversa se encerrava ali. De repente, Diana se aproxima da sogra e lhe
dá um abraço. A rainha parece ter ficado chocada. Se desvencilha da nora e sai
da sala.
Sabe-se
que os britânicos sempre mantiveram distanciamento social. Comum em muitos
países europeus e até nos Estados Unidos. Fiquei impressionado com a cena. Será
que eles não se abraçam? Mesmo na intimidade da família? O protocolo real
proíbe que o comum dos mortais toque nos membros da realeza. Mas não sabia que
a regra valia entre eles.
Aqui em
Manaus algumas pessoas conversam se tocando. Tia Idalina, por exemplo. Saiu de
Manaus, mas Manaus não saiu dela. Ajeita meu colarinho. Pega no meu braço, na
minha mão. Abotoa o botão de minha camisa polo, que uso desabotoada. Sou seu
sobrinho, é certo. Mas faz com qualquer um com quem tenha um pouco de
intimidade.
É
espantoso que o coronavírus tenha se espalhado tão fortemente em alguns países
como a Inglaterra. Desde sempre e antes da pandemia, os ingleses conversam no
mínimo mantendo um metro de distância entre si.
A quantidade
“certa” de abraços e beijos me parece uma necessidade para sermos felizes.
Desde que mutuamente consentidos e com as pessoas certas. Não é crível que se
vá por aí distribuindo abraços e beijos. Também devemos ensinar as crianças que
não permitam que qualquer pessoa as toquem.
Os
maoris são os povos nativos da Nova Zelândia, um país colonizado por ingleses.
Tenho parentes por lá. Há um cumprimento de tradição Maori chamado de hongi. As
pessoas encostam suas testas e esfregam a ponta dos narizes juntas. O ato é
conhecido como “respiro de vida” e acredita-se que tenha vindo dos deuses.
Essa
prática deve ter dificultado muito a integração do colonizador inglês com os
nativos neozelandeses. Ou não! Por lá a pandemia foi controlada com sucesso.
O fato
é que a pandemia e a quarentena nos forçaram a evitar e distribuir nossos
gestos de afeto. Todos nós e as pessoas que amamos merecem sentir os efeitos
positivos de nosso toque. Xô corona!