Pedro Lucas Lindoso
Por que
acontecem as tragédias? Desde muito jovem me faço essa pergunta. Tive o
privilégio de cursar Letras, mais especificamente Língua e Literatura Inglesa,
na UnB, a prestigiada Universidade de Brasília. Fui aluno de Lucia Sander,
especialista em Shakespeare e mestra em nos fazer compreender o sentido das
tragédias shakespearianas.
Lucia
Sander sempre enfatizava, antes de estudarmos determinado texto trágico de
Shakespeare, que jamais podíamos nos esquecer da visão Medieval hierárquica do
mundo. O homem medieval acreditava que Deus havia fixado para cada um de nós
uma cadeia de valores. Um lugar específico. Um sistema de hierarquias. Essas
hierarquias seriam muitas e variadas.
Todavia,
lembro-me que essas hierarquias se correspondiam entre si. Deus, Sol, Lua,
Terra, por exemplo. Em tudo havia uma gradação. Família, pai, filhos. Deus,
reis e súditos. Ordens que deveriam ser temidas e respeitadas.
A
crença vigente naqueles tempos era a de que Deus havia criado o universo com
esse sistema de hierarquias múltiplas e correspondentes entre si. Nesse sentido,
hierarquia é uma gradação dos seres, uma ordem que deve ser temida. Assim, tudo
que compromete essa hierarquia traz instabilidade e caos. Aí temos as
tragédias.
Em Romeu
e Julieta verifica-se que os amantes desafiaram essa ordem. Ao perderem o
equilíbrio moral, acabam ocasionando a própria morte.
O tema
recorrente de Rei Lear gira em torno das leis naturais desafiadas e refletidas
nas relações interpessoais e familiares dele com suas filhas e as outras
pessoas ao seu redor. A consequência? Tragédia.
Macbeth,
é trágico na pequenez de sua ambição, aflorada com profecia de bruxas. Elas
predizem que ele será rei. De soldado valoroso e fiel passa a cometer uma série
de atrocidades e assassinatos em busca incessante pelo alcance do objeto
desejado: a coroa.
Contudo,
Hamlet, a mais famosa das tragédias de Shakespeare, é calcada na vingança. O
Rei Cláudio após assassinar o rei, seu próprio irmão, inverteu a ordem natural
da vida.
E o que
de tão trágico estaria acontecendo nesses tempos? Um amigo militar me explicou:
– A
ordem natural das coisas, como sempre e desde os velhos tempos, é, de fato,
respeitar a hierarquia. General não bate continência para coronel. Muito menos
para capitão.