Poema Cíclico
Anibal Beça (1946-2009)
A trave dos meus olhos
é pólen de crisântemos:
farpas cronológicas.
Metro a metro a seta ideográfica
abre aspas ao vento:
mandala vertical.
Quem me confere
estas asas nubladas
de arcanjo do limbo?
Ah tempo adiposo
a marca do teu risco
esferográfico
abre mais uma estrada
(sem acostamentos)
paralela às estrias do sono.
Eis que a pálpebra de palha
se apresenta:
dos meus olhos saltam
pássaros ariscos
prontos a deflorar begônias
em setembro
e 38 ponteiros
(rubis ciclotímicos do silêncio)
acupunturam poros fóbicos.
Calendas
a fala do espelho
(espectador anônimo)
mostra-me por inteiro:
vital conselho
entre o sudário que
me hospeda
e a angústia que
me habita.
A miração flutua narcisicamente
o rasto da sílaba
e
o grão onomástico sussurra:
Anibal.
Quão particular este silêncio
(viés oculto)
que me sabe desnudo
despudoramente nu
encalhado num atol:
leito circunscrito
às algas do meu avesso.
Sem embargo
trago sempre no alforje
um fardo de estrelas:
sei-me estivador
desse cais agônico:
atarefado Sísifo.