Pedro Lucas Lindoso
O
Jornal do Comércio sempre publica a primeira página de edições antigas. Na
edição de janeiro de 1964, republicada recentemente, me chamou a atenção a
manchete informando a chegada de “CONCEITUADO VENDEDOR DE LIVROS EM MANAUS”.
Uma manchete assim, nos nossos dias, seria totalmente anacrônica. A reportagem
dizia ter chegado em Manaus, pela Varig, vindo do Rio de Janeiro, o Sr. Geraldo
Pereira dos Santos. O ilustre visitante há mais de quinze anos visita a cidade
como “vendedor especializado das mais conceituadas editoras do sul do país”.
A
reportagem informa ainda que Sr. Geraldo Pereira dos Santos, cavalheiro de fino
trato, conseguiu através de longos anos de labor, granjear grande número de
amizades em Manaus.
Fico
imaginando o Sr. Geraldo sendo recebido por magistrados, intelectuais,
professores, membros da Academia Amazonense de Letras e do IGHA – Instituto
Geográfico e Histórico do Amazonas. Imagino ainda o senhor Geraldo na velha
Jaqueira, nossa Faculdade de Direito. Para os advogados e juristas da cidade, o
conceituado vendedor trouxe como novidade o Ementário Forense, tido como
uma “verdadeira enciclopédia do Direito”.
Naturalmente
foi visitar as já extintas antigas e famosas livrarias da cidade. Com certeza
esteve com o Sr. Barata, da inesquecível Livraria Acadêmica. Por certo foi
também nas outras congêneres na Henrique Martins, como a Livraria Brito e a
Livraria Escolar.
Além de
vendedor de livros de sucesso, o sr. Geraldo Pereira dos Santos foi
possivelmente o primeiro “coach” palestrante de autoajuda que esteve por aqui.
Convidava os amazonenses, em especial a juventude e a todos que desejassem
triunfar na vida, para um “Curso de Eficiência Pessoal”. O curso baseava-se no
livro de Edward Earle Purinton, escritor americano famoso nos anos de 1960. Os
livros de Purinton preconizam que a realização pessoal chega através do
desenvolvimento do caráter e da força de vontade. Uma de suas principais obras
é A Vitória do Homem de Ação.
O Sr.
Geraldo informava que estava trocando a sua atividade de vendedor de livros por
uma “mais tranquila”, a de palestrante. Que homem de visão! Mal sabia ele que a
profissão de vendedor de livros estaria com os dias contados. Ou, pelo menos,
com os anos contados. Praticamente não existem mais vendedores de livros. Até o
formato dos livros mudou. Parece que vai mesmo predominar a leitura virtual, em
tablets, e smartphones. E os livros físicos chegam pelos correios, como uma
mercadoria qualquer.
Aconteceu
há exatos 58 anos atrás. Há mais de meio século. Chegava por aqui possivelmente
um dos últimos vendedores de livros, rico e bem-sucedido. E o primeiro coach e
conferencista de autoajuda.