Pedro Lucas Lindoso
Recebo
e-mail do meu amigo e irmão Dr. Antônio Loureiro, nos lembrando que os meninos
e meninas de nosso tempo ouviram muitas vezes, como cantiga de ninar:
“Murucututu
da beira do rio. / Murucututu da beira do rio. /Quando sapo canta, ô maninha /
É porque tem frio.” Ou ainda: “Murucututu de cima do telhado. / Murucututu de
cima do telhado. / Vem pegar este menino, / Que ainda está acordado.” Esta
versão, possivelmente mais urbana e diversificada, é de fazer qualquer curumim morrer de medo e pegar logo no sono.
De
acordo com Dr. Loureiro, as crianças do alto Rio Negro ainda ouvem e cantam
assim. Não é mágico?
Murucututu
é o nome de uma coruja bem pequena. Para alguns ela traz sorte. Reza a
lenda, de origem indígena, que
Murucututu seria a mãe do sono. Seu papel é fazer adormecer as crianças que
demoram a dormir. A lenda diz ainda que Murucututu “empresta” o sono para as
crianças.
Muito
conhecida também é a música da Cuca: “Nana neném que a Cuca vem pegar / Papai
foi para roça / Mamãe foi trabalhar.” Mas não é tão amazônica como a nossa
Murucututu. É mais do Sul/Sudeste. Mesmo porque temos poucas “roças” por aqui.
Planta-se nas várzeas e igapós.
Ah!
Sim! Temos a beira do rio. A beirada, os beiradões. Um dos clássicos de nossa
literatura amazonense é o livro Beiradão, de Álvaro Maia, poeta e
escritor. Álvaro Maia foi governador e senador por nosso Amazonas. Nessa obra,
relata fatos e personagens das beiradas do Rio Madeira, onde nasceu. O beiradão,
a beirada, a beira do rio é onde habitam as murucututus.
O
beiradão é tão marcante, tão importante, que virou gênero musical. Virou um
ritmo típico das beiradas, das beiras dos rios. O beiradão é expressão cultural
diversificada. Envolve também dança e festas às margens dos rios. Onde moram as
murucututus, claro.
Ah! Mas
as coisas mudam! Há uma nova versão para a música do murucututu. Substituíram o
mucucututu pelo Sapo Cururu. Que também mora na beira do rio e tem até mulher.
“Sapo
cururu da beira do rio / Quando o sapo canta, ô maninha / É porque faz frio. /
A mulher do sapo / Deve estar lá dentro, / Fazendo rendinha, ô maninha, / Para
o casamento.”
Não é
só isso. Agora chamam os beiradões, as beiradas, a beira do rio de orla! Eu até
concordo que o sapo cururu possa morar na beira do rio, como a murucututu.
Agora, chamar beira de rio de orla!... É muita pavulagem!