Amigos do Fingidor

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Repristinação

 Pedro Lucas Lindoso

    

Em geral tenho evitado falar de política nas minhas crônicas. O país já está muito dividido. Todavia, me chamou atenção o fato de a Presidência da República rever sua posição e revogar os decretos que revogavam decretos de luto oficial editados por governos antecessores.

Isso é muito raro no mundo Jurídico. Mas pode acontecer e o instituto tem nome. Chama-se de repristinação. Ocorre quando volta a ter vigência uma Lei revogada em virtude da revogação da Lei que a revogou em um primeiro momento. Em outras palavras, é o fenômeno jurídico pelo qual uma Lei volta a vigorar após a revogação da Lei que a revogou.

Foram revogados os decretos que instituíram luto oficial quando da morte de dom Helder Câmara, arcebispo Emérito de Olinda e Recife, do ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, do sociólogo Darcy Ribeiro, do economista Celso furtado, dentre outros.

Em de julho de 1980, o Papa João Paulo II, o Papa que ajudou a derrubar a cortina de ferro, visitava Pernambuco. Foi recebido no aeroporto por dom Hélder Câmara, a quem deu um caloroso abraço. Dom Hélder Câmara tinha uma opção preferencial pelos pobres e sua memória há de ser respeitada por todos os brasileiros. Independentemente de qualquer posição política.

Pode-se discordar da visão política de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Mas toda a intelectualidade brasileira, de qualquer matiz ideológico, reconhece que ambos foram brasileiros que se preocuparam com a Educação.

Brizola, quando governador dos gaúchos, saiu construindo escolas por todo o estado. Quando governador do Rio de Janeiro, implantou diversas escolas. Inclusive, de forma pioneira, implantou escolas de tempo integral. Sempre teve ajuda de Darcy Ribeiro em suas políticas educacionais, que além de sociólogo foi também um grande educador. Juscelino Kubistchek já o havia designado para criar a UnB – Universidade de Brasília, hoje uma das melhores do país.

Quem cria escolas, quem se preocupa com a Educação, evita a abertura de presídios e hospitais. O homem que tem educação é consciente de seus direitos e deveres e cuida da sua saúde.

Em boa hora o presidente anulou os atos em que revogava decretos de luto oficial desses brasileiros. Há quem diga que repristinação não é possível em nosso ordenamento jurídico. Somente se for expressa. É raro, mas acontece. O presidente retirou esse malsinado e inconveniente “revogaço”. O “imbróglio” foi uma medida desnecessária. Temos agora os decretos com nova vigência por efeito repristinatório.