Hildeberto
Barbosa Filho
Nada sei dos
homens nem dos deuses,
seus truques, sonhos, armadilhas e destinos,
nem nada sei
da vida, cardume que se reinventa.
Nem nada sei
do que na guerra existe,
do que na
morte existe, do que na cor existe.
Sei que os
homens sofrem porque lembram.
Sei que a
cada manhã o tempo passa,
repartindo os
filhos, as estórias, as mulheres
e que à noite
restará um verso sem luz.
Nada sei,
nada sei, nada sei,
mas quero
guardar a alegria de cantar o amor.
Nada, nada,
nada como o amor que vem,
invadindo as
cidades, as catedrais, os ermos,
em louvor do
grão da vida.
O resto é
silêncio, como disse Shakespeare
e morrer
também não é remédio.
Os livros não
dizem tudo,
nem os astros
nem as crenças.
As lições de
partir
ficam aquém
das estações e dos cais.
Só além do
mar e dos teus olhos
eu vejo a
ilha dos amores,
seus
arrecifes de espinhas, seu gosto de sono,
a ressaca, o
nunca mais.
Nada sei que
me diga do definitivo pouso,
se há o ponto
de apoio que procurava Konoválov,
se é possível
o dantesco paraíso no meio do caminho,
ou tudo é
selva escura, solidão, inferno?
Nada sei que
me diga das estrelas,
nem do amor
que tu me tinhas, seus topázios,
seus cabelos
de silêncio.
Sei que os
homens sofrem porque lembram.
Sei que o
amor, o amor, o amor só é possível
reinventado...
E nada sei
dos homens nem dos deuses,
se há o verso
maior, o poeta maior, o amor maior,
se nesses
dias brancos algum dia eu serei feliz.
|