Amigos do Fingidor

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

A poesia é necessária?

 

Balada das três mulheres do sabonete Araxá 

 

Manuel Bandeira (1886-1868)

 


As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me

[bouleversam, me hipnotizam.

Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!

O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!

 

Que outros, não eu, a pedra cortem

Para brutais vos adorarem,

Ó brancaranas azedas,

Mulatas cor da lua vem saindo cor de prata

Ou celestes africanas:

Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres do

 [sabonete Araxá!

São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do

 [sabonete Araxá?

São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?

São as três Marias?

 

Meu Deus, serão as três Marias?

 

A mais nua é doirada borboleta.

Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e

[nunca mais telefonava.

Mas se a terceira morresse... Oh, então nunca mais a minha vida

[outrora teria sido um festim!

Se me perguntassem: Queres ser estrela? queres ser rei? queres

 [uma ilha no Pacífico? um bangalô em Copacabana?

Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero as

 [três mulheres do sabonete Araxá:

O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!