Pedro Lucas Lindoso
Recebo
notícias de um amigo que está fazendo pós-doutorado na Inglaterra. O assunto
recorrente na imprensa escrita, falada e na televisão, inclusive e
principalmente nas mídias sociais, é o livro autobiográfico do Príncipe Harry.
O livro
se chama “Spare”. Há vários significados para o vocábulo. Pode se traduzir como
poupar, privar-se de, reserva, disponível e sobressalente, dentre outros. Penso
que o príncipe, desde menino, se sentiu um sobressalente. Como irmão mais novo
e segundo na linha de sucessão ao trono.
Meu
amigo, o qual chamarei de Luís, leu o livro. Eu não o li e provavelmente não
vou ler. Disse-me que o livro é muito bem escrito pelo “ghost writer” escolhido
e contratado por Harry. Trata-se, antes de tudo, de uma vingança em honra da
falecida Princesa Diana, mãe de Harry. Ele é impiedoso com a sua madrasta, a
Rainha Consorte Camila.
Outro
ponto muito polêmico são suas confissões sobre a quantidade de talibãs que
morreram com sua participação em operações de guerra. O que acontece em campo
de batalha deve ficar no campo de batalha. A família real pode até perdoar o
príncipe pelos descalabros ditos. Mas os militares britânicos jamais perdoarão
Harry. Muito menos os compatriotas dos abatidos pelo príncipe boquirroto.
Acredito que ele jamais poderá dispensar seguranças, enquanto viver.
Para
muitos ingleses conservadores e monarquistas ferrenhos, o livro é uma traição.
Para esse pessoal, o mínimo que ele merece é ser despido de todos os títulos e
deserdado. É um acinte à memória de sua falecida avó. A Rainha Elizabeth II
exigia da família que não reclamassem de nada e que não comentassem nada dos
assuntos familiares.
Last
but not least, Luís me lembra que a rivalidade entre Harry e William começou a
ser descrita com Caim e Abel, nos textos do Velho Testamento. O tema foi
explorado de Shakespeare a Machado de Assis. O nosso festejado escritor
amazonense Milton Hatoum enfrenta a temática no seu livro “Dois irmãos”. O
romance trata da relação conflituosa entre dois irmãos de uma família de
libaneses em Manaus.
A tia
avó de Harry, Princesa Margareth, tinha inveja de sua irmã, a Rainha Elizabeth
II. Margareth teve uma biografia bastante conturbada e desafiadora. Quanto à esposa
de Harry, Meghan Markle, trata-se de um típico caso de fascinação. O mesmo fenômeno
de nosso Pedro I com a Marquesa de Santos. Assim como do tio bisavô de Harry,
Príncipe Edward, com Wallis Simpson, a Duquesa de Windsor.
Harry é
fascinado por Meghan. Perdoem o príncipe pelo livro. Fascinação é fascinação!