Amigos do Fingidor

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Fascinação é fascinação

 Pedro Lucas Lindoso


Recebo notícias de um amigo que está fazendo pós-doutorado na Inglaterra. O assunto recorrente na imprensa escrita, falada e na televisão, inclusive e principalmente nas mídias sociais, é o livro autobiográfico do Príncipe Harry.

O livro se chama “Spare”. Há vários significados para o vocábulo. Pode se traduzir como poupar, privar-se de, reserva, disponível e sobressalente, dentre outros. Penso que o príncipe, desde menino, se sentiu um sobressalente. Como irmão mais novo e segundo na linha de sucessão ao trono.

Meu amigo, o qual chamarei de Luís, leu o livro. Eu não o li e provavelmente não vou ler. Disse-me que o livro é muito bem escrito pelo “ghost writer” escolhido e contratado por Harry. Trata-se, antes de tudo, de uma vingança em honra da falecida Princesa Diana, mãe de Harry. Ele é impiedoso com a sua madrasta, a Rainha Consorte Camila.

Outro ponto muito polêmico são suas confissões sobre a quantidade de talibãs que morreram com sua participação em operações de guerra. O que acontece em campo de batalha deve ficar no campo de batalha. A família real pode até perdoar o príncipe pelos descalabros ditos. Mas os militares britânicos jamais perdoarão Harry. Muito menos os compatriotas dos abatidos pelo príncipe boquirroto. Acredito que ele jamais poderá dispensar seguranças, enquanto viver.  

Para muitos ingleses conservadores e monarquistas ferrenhos, o livro é uma traição. Para esse pessoal, o mínimo que ele merece é ser despido de todos os títulos e deserdado. É um acinte à memória de sua falecida avó. A Rainha Elizabeth II exigia da família que não reclamassem de nada e que não comentassem nada dos assuntos familiares.

Last but not least, Luís me lembra que a rivalidade entre Harry e William começou a ser descrita com Caim e Abel, nos textos do Velho Testamento. O tema foi explorado de Shakespeare a Machado de Assis. O nosso festejado escritor amazonense Milton Hatoum enfrenta a temática no seu livro “Dois irmãos”. O romance trata da relação conflituosa entre dois irmãos de uma família de libaneses em Manaus.

A tia avó de Harry, Princesa Margareth, tinha inveja de sua irmã, a Rainha Elizabeth II. Margareth teve uma biografia bastante conturbada e desafiadora. Quanto à esposa de Harry, Meghan Markle, trata-se de um típico caso de fascinação. O mesmo fenômeno de nosso Pedro I com a Marquesa de Santos. Assim como do tio bisavô de Harry, Príncipe Edward, com Wallis Simpson, a Duquesa de Windsor.

Harry é fascinado por Meghan. Perdoem o príncipe pelo livro. Fascinação é fascinação!