Amigos do Fingidor

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

A última vez que vi Joaquim


Zemaria Pinto

  

Trocando mensagens com o amigo poeta Donaldo Mello, Joaquim meteu-se na conversa, trazido pelo obituário da Folha de São Paulo. Donaldo, amazonense morador de Brasília, não o conheceu.

Comecei a contar sobre a Banca do Largo, o Tacacá na Bossa e constatei que não lembrava mais quando o conheci.   

Mas, a última vez que o vi, dia 16 de dezembro, foi antológica.

Uns dois dias antes, ele me telefona e me convida a passar na banca, que ele tinha uma novidade para mim. Nem adiantava insistir, porque eu só saberia da novidade indo à banca, que só abria às 16h. Na sexta-feira fui lá. Ele me entregou um pacotinho, com Um rio sem fim, da Verenilde Pereira, que eu encomendara há meses. Só que era xerocopiado.

– Pô, Joaquim, e o original?

– Ah, meu amigo, o original, autografado, é meu...

Mas, a historinha antológica não termina aí. Conversando com uma freguesa francesa, eu já estava de saída, quando aparece... a Verenilde. A bela francesa nos fotografou. E do Joaquim ficou a última lembrança...

 

Zemaria Pinto, Verenilde Pereira, Joaquim Melo.

É importante registrar o papel da Banca do Largo na vida literária de Manaus. Os frequentes lançamentos eram feitos ao ar livre. No último dia 9 de dezembro, tivemos a Eliane Brum lotando o espaço em frente à banca.  Além de La Brum, faziam parte da paisagem habitual da banca Ailton Krenak, Milton Hatoum, professores universitários, autores renomados e ilustres desconhecidos, acadêmicos, marginais, quadrinheiros etc.

E o Joaquim, sempre sorrindo, tinha uma palavra de agradecimento a cada um.

Nós é que te agradecemos, companheiro velho...


Nota: Joaquim Melo, economista, historiador, livreiro, agitador cultural, sofreu um enfarto no dia 20 de dezembro, vindo a falecer na madrugada do dia 1º de janeiro, aos 64 anos.