Alejandro
Saturnino Valladares
Tradução:
Inácio Oliveira
A Noelia Valladares López
Entre antigos brinquedos quebrados,
Alejandro, como um deus derrotado,
austero e solene, recostado
em uma suja caixa de papelão,
carrega em seu brilho manchado e encardido
o que um dia, delicada, foi a vida.
O vento do passado entre meus dedos:
a carícia furtiva que a infância
deixou atrás dela.
Alejandro, um boneco Baby Feber,
vivia com minha irmã entre as coisas,
era o privilégio e brilho da festa,
o verdadeiro talismã da aventura,
o carinho, o cuidado e a alegria.
Aquela menina saiu uma noite
com batom e salto alto,
com rímel de quem nunca chorou
por amor, ainda que tentasse,
para nunca mais voltar a suas bonecas.
Estou em casa e a memória
me conduz, sem o fio de Ariadne,
por labirintos nunca visitados.
Ouço passos se aproximando
e uma voz cultivada na lembrança.
Me afasto, deixo minha irmã entrar
discretamente em seu passado cúmplice
e saio na ponta dos pés deste poema.