Pedro Lucas Lindoso
Numa
terra onde a natureza se desdobra em infinitas cores e formas, Margaret Mee,
com seu pincel delicado, capturou a essência da Amazônia brasileira. Suas
pinturas da flora tropical, detalhadas e vivas, transcendem a mera arte,
tornando-se documentos de uma biodiversidade sem par.
Paralelamente,
no mesmo solo brasileiro, mas em esferas distintas, José Lindoso orquestrava
seu governo no estado do Amazonas. Sua gestão, marcada por desafios e
controvérsias, intercalava-se entre o progresso, a preservação e o
desenvolvimento econômico.
Conheci
Margaret Mee numa manhã de domingo na residência governamental do Parque das
Laranjeiras. Avessa à holofotes e autoridades, atendeu ao pedido do governador
em conhecê-la pessoalmente. Retornava de uma de suas expedições na área de Novo
Airão. Pediu discrição e foi amável e reservada como são os ingleses em geral.
Eis que
os caminhos de Mee e Lindoso, embora distintos, entrelaçam-se na crônica
amazônica. Margaret, com seus pincéis e tintas, captava a alma da floresta,
suas orquídeas raras, suas bromélias reluzentes. Lindoso, por sua vez,
enfrentava o desafio de governar um estado cuja maior riqueza e maior desafio
era justamente essa natureza exuberante.
Margaret Mee (1909-1988). |
As
expedições noturnas de Mee para capturar a beleza da flor da lua, uma raridade
que só floresce à noite, simbolizam a tenacidade e a dedicação à causa
ambiental. Lindoso, em contrapartida, navegava nas águas turvas da política,
onde cada decisão poderia significar um passo a mais na preservação ou na
degradação. Seu governo, como um barco em águas amazônicas, buscava um caminho
que reconciliasse o progresso com a preservação, uma tarefa nada fácil.
Em um
ponto, porém, os destinos de Mee e Lindoso se encontram: na paixão pela
Amazônia. Para Margaret, era a tela viva de sua arte; para Lindoso, o cenário
complexo de sua governança. Ambos, a seu modo, deixaram marcas nesse território
mágico.
Hoje,
as pinturas de Mee adornam museus e galerias, lembrando-nos da fragilidade e da
beleza daquela floresta distante. E as decisões de Lindoso, por sua vez,
permanecem como parte integrante da história política do Amazonas.
Assim,
entre pinceladas e decretos, entre flores e políticas, a sinfonia de Margaret
Mee e José Lindoso ecoa, lembrando-nos da eterna dança entre o homem e a
natureza, entre a arte e o poder.