Amigos do Fingidor

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Entre flores e decretos: a sinfonia de Mee e Lindoso

 Pedro Lucas Lindoso

 

Numa terra onde a natureza se desdobra em infinitas cores e formas, Margaret Mee, com seu pincel delicado, capturou a essência da Amazônia brasileira. Suas pinturas da flora tropical, detalhadas e vivas, transcendem a mera arte, tornando-se documentos de uma biodiversidade sem par.

Paralelamente, no mesmo solo brasileiro, mas em esferas distintas, José Lindoso orquestrava seu governo no estado do Amazonas. Sua gestão, marcada por desafios e controvérsias, intercalava-se entre o progresso, a preservação e o desenvolvimento econômico.

Conheci Margaret Mee numa manhã de domingo na residência governamental do Parque das Laranjeiras. Avessa à holofotes e autoridades, atendeu ao pedido do governador em conhecê-la pessoalmente. Retornava de uma de suas expedições na área de Novo Airão. Pediu discrição e foi amável e reservada como são os ingleses em geral.

Eis que os caminhos de Mee e Lindoso, embora distintos, entrelaçam-se na crônica amazônica. Margaret, com seus pincéis e tintas, captava a alma da floresta, suas orquídeas raras, suas bromélias reluzentes. Lindoso, por sua vez, enfrentava o desafio de governar um estado cuja maior riqueza e maior desafio era justamente essa natureza exuberante.

Margaret Mee (1909-1988).

As expedições noturnas de Mee para capturar a beleza da flor da lua, uma raridade que só floresce à noite, simbolizam a tenacidade e a dedicação à causa ambiental. Lindoso, em contrapartida, navegava nas águas turvas da política, onde cada decisão poderia significar um passo a mais na preservação ou na degradação. Seu governo, como um barco em águas amazônicas, buscava um caminho que reconciliasse o progresso com a preservação, uma tarefa nada fácil.

Em um ponto, porém, os destinos de Mee e Lindoso se encontram: na paixão pela Amazônia. Para Margaret, era a tela viva de sua arte; para Lindoso, o cenário complexo de sua governança. Ambos, a seu modo, deixaram marcas nesse território mágico.

Hoje, as pinturas de Mee adornam museus e galerias, lembrando-nos da fragilidade e da beleza daquela floresta distante. E as decisões de Lindoso, por sua vez, permanecem como parte integrante da história política do Amazonas.

Assim, entre pinceladas e decretos, entre flores e políticas, a sinfonia de Margaret Mee e José Lindoso ecoa, lembrando-nos da eterna dança entre o homem e a natureza, entre a arte e o poder.