Pedro Lucas Lindoso
Para
mim o Presépio Natalino é mais importante do que qualquer árvore de natal ou
guirlandas. Mais importante do que qualquer novidade eletrônica ou não vindo
diretamente de Miami, do Paraguai ou da feira de importados de Brasília ou de
Foz de Iguaçu.
Simplesmente
porque o presépio era o elemento natalino de destaque de minha infância. Uma
tradição de nossa família. Gostar de presépios é um sentimento herdado de meu
querido e saudoso pai. Ele adorava o nosso presépio. Guardado o ano todo com
esmero numa caixa de papelão. As imagens cuidadosamente enroladas em folhas de
papel de seda. A caixa era devidamente forrada e fornida com jornais
suficientes para evitar que as imagens fossem danificadas ou quebradas. O nosso
presépio foi adquirido em uma viagem à Europa feita por meus pais em meados dos
anos cinquenta.
Ao
presépio original foram acrescentadas outras peças extras. Além do tradicional
boi e da vaca, das ovelhas e carneirinhos, foram acrescentados galinhas e
pintinhos. Bem como outros animais domésticos que possivelmente estariam
presentes no estábulo onde Jesus nasceu.
O
presépio deveria estar pronto e devidamente ornamentado até o dia 8 de
dezembro. Feriado em honra a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Amazonas.
É o dia da família e se comemorava o aniversário de casamento de meus pais. Se
vivos fossem, teriam comemorado setenta e cinco anos neste último dia oito.
Todos
da família, em especial os mais velhos, podiam e deviam participar da
ornamentação do presépio. O Natal que antecedeu nossa ida para Brasília teve um
presépio especialmente bem caprichado.
Nós
morávamos na Rua Henrique Martins, em frente ao SESC. Naquela época o SENAC
também era ali. Havia cursos, direcionados aos comerciários, de vitrinistas e
decoradores. Um dos professores se ofereceu para opinar na ornamentação do
nosso presépio. Até um marceneiro foi chamado para fazer uma bancada onde ficou
o estábulo e todos os personagens do presépio original e os adicionados posteriormente.
Havia
ainda o cometa que anunciou a chegada do Menino Deus. Naquele ano,
especialmente, feito de isopor e coberto por papel laminado. Encrostado de purpurina. Aquilo tudo reluzia
com intensidade persistente até hoje nas minhas memórias. Aquele presépio,
aquela montagem são simplesmente inesquecíveis. Uma de minhas irmãs desejou um
presépio nos moldes daquele de nossa infância. Hoje, um presépio impossível.