Amigos do Fingidor

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Um presépio impossível

Pedro Lucas Lindoso


Para mim o Presépio Natalino é mais importante do que qualquer árvore de natal ou guirlandas. Mais importante do que qualquer novidade eletrônica ou não vindo diretamente de Miami, do Paraguai ou da feira de importados de Brasília ou de Foz de Iguaçu.

Simplesmente porque o presépio era o elemento natalino de destaque de minha infância. Uma tradição de nossa família. Gostar de presépios é um sentimento herdado de meu querido e saudoso pai. Ele adorava o nosso presépio. Guardado o ano todo com esmero numa caixa de papelão. As imagens cuidadosamente enroladas em folhas de papel de seda. A caixa era devidamente forrada e fornida com jornais suficientes para evitar que as imagens fossem danificadas ou quebradas. O nosso presépio foi adquirido em uma viagem à Europa feita por meus pais em meados dos anos cinquenta.

Ao presépio original foram acrescentadas outras peças extras. Além do tradicional boi e da vaca, das ovelhas e carneirinhos, foram acrescentados galinhas e pintinhos. Bem como outros animais domésticos que possivelmente estariam presentes no estábulo onde Jesus nasceu.

O presépio deveria estar pronto e devidamente ornamentado até o dia 8 de dezembro. Feriado em honra a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Amazonas. É o dia da família e se comemorava o aniversário de casamento de meus pais. Se vivos fossem, teriam comemorado setenta e cinco anos neste último dia oito.

Todos da família, em especial os mais velhos, podiam e deviam participar da ornamentação do presépio. O Natal que antecedeu nossa ida para Brasília teve um presépio especialmente bem caprichado.

Nós morávamos na Rua Henrique Martins, em frente ao SESC. Naquela época o SENAC também era ali. Havia cursos, direcionados aos comerciários, de vitrinistas e decoradores. Um dos professores se ofereceu para opinar na ornamentação do nosso presépio. Até um marceneiro foi chamado para fazer uma bancada onde ficou o estábulo e todos os personagens do presépio original e os adicionados posteriormente.

Havia ainda o cometa que anunciou a chegada do Menino Deus. Naquele ano, especialmente, feito de isopor e coberto por papel laminado.  Encrostado de purpurina. Aquilo tudo reluzia com intensidade persistente até hoje nas minhas memórias. Aquele presépio, aquela montagem são simplesmente inesquecíveis. Uma de minhas irmãs desejou um presépio nos moldes daquele de nossa infância. Hoje, um presépio impossível.