Amigos do Fingidor

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

A poesia é necessária?

 

Se acaso uma alma se fotografasse

Euclides da Cunha (1866-1909)

 

Se acaso uma alma se fotografasse
De modo que nos mesmos negativos
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face;

E os nossos ideais, e os mais cativos
De nossos sonhos... Se a emoção que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse
Mesmo em ligeiros traços fugitivos...

Poeta! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando, deste grupo bem ao meio,

Que o mais belo, o mais forte e o mais ardente
Destes sujeitos, é precisamente
O mais triste, o mais pálido e o mais feio...

 

Manaus, 2 de fevereiro de 1905

 

(Remetido a Rodrigo Octavio, este poema foi escrito sobre uma fotografia, onde Euclides posa com o grupo de trabalho que iria explorar o rio Javari.)