Se acaso uma
alma se fotografasse
Euclides da Cunha (1866-1909)
Se acaso uma alma se fotografasse
De modo que nos mesmos negativos
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face;
E os nossos ideais, e os mais cativos
De nossos sonhos... Se a emoção que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse
Mesmo em ligeiros traços fugitivos...
Poeta! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando, deste grupo bem ao meio,
Que o mais belo, o mais forte e o mais ardente
Destes sujeitos, é precisamente
O mais triste, o mais pálido e o mais feio...
Manaus, 2 de fevereiro de 1905
(Remetido a Rodrigo Octavio, este poema foi escrito sobre uma
fotografia, onde Euclides posa com o grupo de trabalho que iria explorar o rio
Javari.)