Pedro
Lucas Lindoso
Os
filmes americanos com temática natalina invadem as telas da TV e dos canais de streaming
nessa época do ano. A grande maioria aborda o tema da reconciliação e do
perdão. Normalmente as circunstâncias são difíceis ou até impossíveis. Daí
ocorre o “milagre de natal”. Geralmente, com um “happy end” no final. E muita
emoção para fazer os corações mais sensíveis chorar.
Minha
querida Tia Idalina armou uma situação bem parecida com o enredo desses filmes
água com açúcar produzidos em Hollywood. Titia preparou uma baita ceia de natal
com toque de culinária amazonense. Aliás, um almoço natalino do dia 25. Além do
tender, peru e bacalhau, havia pirarucu de casaca e torta de banana frita.
Farinha do arini e pirarucu seco providenciados com antecedência. Encomenda
levada para o Rio de Janeiro por casal de amigos que não perdem o réveillon
de Copacabana há mais de trinta anos.
Tia
Idalina armou o indefectível amigo oculto. Com seu prestígio, os sobrinhos
rumaram felizes para sua casa no dia seguinte ao de natal. E avisou: “Não é
comida que sobrou da ceia. Vai ser um almoço especial. Sem sobras nem ‘restô
dontém’”. Seu objetivo era reconciliar dois sobrinhos brigados desde a eleição
em que Haddad perdeu para Bolsonaro. Para começar, ela manipulou o amigo
oculto. Estudou todas as circunstâncias, amizades e relacionamentos para evitar
polêmicas. O objetivo era reconciliar os dois sobrinhos, ora inimigos mortais
por conta de opinião política divergente.
Os
dois haviam começado uma guerra com viés ideológico que perdurou toda a
pandemia. Os insultos e bate-bocas se davam via grupo de Whatzapp no
qual Idalina era a administradora. Titia fez de tudo para evitar que a política
ficasse de fora das conversas familiares. Não teve jeito!
Os
sobrinhos tinham, porém, uma coisa em comum: ambos eram católicos e haviam sido
coroinhas na infância. Estavam afastados da Igreja. Um porque havia se
divorciado e casado novamente. O outro tinha um relacionamento homoafetivo.
Ambos raramente iam à missa e não comungavam mais.
Tia
Idalina, inspirada na manifestação do Papa Francisco que permitiu a benção a
pessoas nessas situações, houve por bem convidar um padre para abençoar os
sobrinhos e seus respectivos. O jovem padre aceitou o convite e fez uma homília
memorável. Lembrou que o Papa Francisco recomendou aos padres o acolhimento e
reconciliação. Incentivando a benção às pessoas divorciadas e homoafetivas. O
padre ressaltou que a Igreja e as religiões devem oferecer sempre
possibilidades de perdão, acolhimento e libertação. O perdão liberta as pessoas
do rancor e do ódio que só fazem mal.
Depois
das benções, os primos se abraçaram emocionados. Foi um almoço memorável com
muita dança, alegria e perdão recíproco. Tia Idalina estava radiante de
alegria. Um milagre de natal à brasileira. Com toque amazonense e em
Copacabana.