Amigos do Fingidor

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O almoço natalino de Idalina


Pedro Lucas Lindoso

 

Os filmes americanos com temática natalina invadem as telas da TV e dos canais de streaming nessa época do ano. A grande maioria aborda o tema da reconciliação e do perdão. Normalmente as circunstâncias são difíceis ou até impossíveis. Daí ocorre o “milagre de natal”. Geralmente, com um “happy end” no final. E muita emoção para fazer os corações mais sensíveis chorar.

Minha querida Tia Idalina armou uma situação bem parecida com o enredo desses filmes água com açúcar produzidos em Hollywood. Titia preparou uma baita ceia de natal com toque de culinária amazonense. Aliás, um almoço natalino do dia 25. Além do tender, peru e bacalhau, havia pirarucu de casaca e torta de banana frita. Farinha do arini e pirarucu seco providenciados com antecedência. Encomenda levada para o Rio de Janeiro por casal de amigos que não perdem o réveillon de Copacabana há mais de trinta anos.

Tia Idalina armou o indefectível amigo oculto. Com seu prestígio, os sobrinhos rumaram felizes para sua casa no dia seguinte ao de natal. E avisou: “Não é comida que sobrou da ceia. Vai ser um almoço especial. Sem sobras nem ‘restô dontém’”. Seu objetivo era reconciliar dois sobrinhos brigados desde a eleição em que Haddad perdeu para Bolsonaro. Para começar, ela manipulou o amigo oculto. Estudou todas as circunstâncias, amizades e relacionamentos para evitar polêmicas. O objetivo era reconciliar os dois sobrinhos, ora inimigos mortais por conta de opinião política divergente.

Os dois haviam começado uma guerra com viés ideológico que perdurou toda a pandemia. Os insultos e bate-bocas se davam via grupo de Whatzapp no qual Idalina era a administradora. Titia fez de tudo para evitar que a política ficasse de fora das conversas familiares. Não teve jeito!

Os sobrinhos tinham, porém, uma coisa em comum: ambos eram católicos e haviam sido coroinhas na infância. Estavam afastados da Igreja. Um porque havia se divorciado e casado novamente. O outro tinha um relacionamento homoafetivo. Ambos raramente iam à missa e não comungavam mais.

Tia Idalina, inspirada na manifestação do Papa Francisco que permitiu a benção a pessoas nessas situações, houve por bem convidar um padre para abençoar os sobrinhos e seus respectivos. O jovem padre aceitou o convite e fez uma homília memorável. Lembrou que o Papa Francisco recomendou aos padres o acolhimento e reconciliação. Incentivando a benção às pessoas divorciadas e homoafetivas. O padre ressaltou que a Igreja e as religiões devem oferecer sempre possibilidades de perdão, acolhimento e libertação. O perdão liberta as pessoas do rancor e do ódio que só fazem mal.

Depois das benções, os primos se abraçaram emocionados. Foi um almoço memorável com muita dança, alegria e perdão recíproco. Tia Idalina estava radiante de alegria. Um milagre de natal à brasileira. Com toque amazonense e em Copacabana.