O
mundo necessita de poesia
Gilka
Machado
(1893-1980)
O mundo
necessita de poesia,
cantemos,
poetas, para a humanidade;
que nossa
voz suba aos arranha-céus
e desça aos
subterrâneos,
acompanhando
ricos e pobres
nos
atropelos
das carreiras
de ambição
e na luta
pelo pão.
Lavemo-nos
das máscaras histriônicas;
tenhamos a
coragem
de propalar
a existência eterna
do
sentimento;
ponhamos
termo
a esses
malabarismos
de palhaços
falsos
da
modernidade,
permanecendo
diferentes,
diante da
multidão
insensibilizada,
enferma.
A
humanidade quer rir de tudo,
porém é
alvar sua gargalhada.
Foge das
tristezas,
mas paira
ausente
em meio aos
prazeres,
desligada
em toda parte,
perdida em
si mesma.
O homem
anda esquecido do caminho da fé
que a
poesia sempre lhe ensinou.
O homem
está inquieto
porque lhe
falta a posse das distâncias
que só a
poesia proporciona.
O homem se
sente miserável
porque a
poesia não lhe enche a alma
daquele ouro
inesgotável
do sonho.
O mundo
necessita de poesia,
(não
importem assuadas)
cantemos
alto, poetas, cantemos!
Que seja
nossa voz
um sino de
cristal,
um sino-guia
de perdidos rumos,
vibrando no
nevoeiro de inconsciência
do momento
angustioso!
Nosso
destino, poetas, é o destino
das
cigarras e dos pássaros:
– cantar
diante da vida,
cantar
para animar
o labor do
Universo;
cantar para
acordar
ideias e
emoções;
porque no
nosso canto
há um trigo
louro,
um pão
estranho que impulsiona
o braço
humano,
e os
cérebros orienta,
uma hóstia
em que os
espíritos encontram,
na comunhão
da beleza,
a
sublimação da existência.
O mundo
necessita de poesia,
cantemos
alto, poetas, cantemos!