Amigos do Fingidor

terça-feira, 5 de março de 2024

Respeito ao sagrado

 Pedro Lucas Lindoso


Aprendi que todas as religiões levam a um só Deus, o Grande Criador do Universo. Mas os ritos e o sagrado variam. E todos devem e precisam respeitar aquilo que é sagrado para o outro.

No último Carnaval de Salvador houve uma lamentável polêmica envolvendo as cantoras Ivete Sangalo e Baby. Ambas provocaram constrangimentos. Carnaval é festa profana. Trio elétrico não é local para manifestação religiosa. Estamos nos aproximando da Páscoa. A “malhação de judas” é uma prática lamentável e deve ser evitada. É ofensiva.

Aprendi com meu velho pai que o respeito ao sagrado nas mais diversas religiões e credos é um dever de todos. Os caminhos da fé se destacam ante a universalidade do necessário respeito ao sagrado, mesmo diante da diversidade religiosa.

Ao amanhecer, o sol nascente beija primeiro os minaretes das mesquitas, onde o chamado para a oração reverbera, convidando os fiéis ao recolhimento e à entrega. Não muito longe, os sinos das igrejas anunciam o início de uma nova manhã, convocando a comunidade cristã para celebrar a esperança e a renovação da fé. Enquanto isso, os círculos de pedra sagrada recebem os primeiros raios de luz, preenchendo os corações dos praticantes do paganismo com a energia da terra, do ar, do fogo e da água.

Cada prática, cada canto, cada prece elevada, seja em um templo, uma igreja, uma mesquita ou nas tribos dos povos da Amazônia, é um testemunho do respeito ao sagrado. É um sentimento profundamente enraizado no coração humano, uma reverência compartilhada que nos une apesar de nossas diferenças.

Aqui na nossa Amazônia, as práticas espirituais dos povos indígenas, profundamente enraizadas na terra e em suas tradições ancestrais, nos ensinam o respeito pela sabedoria da natureza e pelos ciclos da vida, uma conexão sagrada que sustenta a vida. Não é à toa que nas mãos dos povos indígenas estão as nossas esperanças da preservação dos rios e das matas. A salvação do planeta!

Todas essas manifestações de fé refletem a riqueza da experiência humana com o divino. Apesar das diferenças, há um fio comum que nos conecta: a busca por significado, propósito e conexão com algo maior que nós mesmos.

Neste tempo de Quaresma para os católicos, ouso convidar meus poucos leitores a reconhecer e respeitar o sagrado em todas as suas formas. O exercício da fé é como uma tapeçaria tecida com fios de múltiplas cores, cada uma representando uma tradição, uma história, uma forma de entender e viver o sagrado. Faço também um convite à tolerância, ao diálogo e, acima de tudo, ao respeito mútuo que deve prevalecer entre todas as formas de expressão da espiritualidade humana.