Aprendi
que todas as religiões levam a um só Deus, o Grande Criador do Universo. Mas os
ritos e o sagrado variam. E todos devem e precisam respeitar aquilo que é
sagrado para o outro.
No
último Carnaval de Salvador houve uma lamentável polêmica envolvendo as
cantoras Ivete Sangalo e Baby. Ambas provocaram constrangimentos. Carnaval é
festa profana. Trio elétrico não é local para manifestação religiosa. Estamos
nos aproximando da Páscoa. A “malhação de judas” é uma prática lamentável e
deve ser evitada. É ofensiva.
Aprendi
com meu velho pai que o respeito ao sagrado nas mais diversas religiões e
credos é um dever de todos. Os caminhos da fé se destacam ante a universalidade
do necessário respeito ao sagrado, mesmo diante da diversidade religiosa.
Ao
amanhecer, o sol nascente beija primeiro os minaretes das mesquitas, onde o
chamado para a oração reverbera, convidando os fiéis ao recolhimento e à
entrega. Não muito longe, os sinos das igrejas anunciam o início de uma nova
manhã, convocando a comunidade cristã para celebrar a esperança e a renovação
da fé. Enquanto isso, os círculos de pedra sagrada recebem os primeiros raios
de luz, preenchendo os corações dos praticantes do paganismo com a energia da
terra, do ar, do fogo e da água.
Cada
prática, cada canto, cada prece elevada, seja em um templo, uma igreja, uma
mesquita ou nas tribos dos povos da Amazônia, é um testemunho do respeito ao
sagrado. É um sentimento profundamente enraizado no coração humano, uma
reverência compartilhada que nos une apesar de nossas diferenças.
Aqui na
nossa Amazônia, as práticas espirituais dos povos indígenas, profundamente
enraizadas na terra e em suas tradições ancestrais, nos ensinam o respeito pela
sabedoria da natureza e pelos ciclos da vida, uma conexão sagrada que sustenta
a vida. Não é à toa que nas mãos dos povos indígenas estão as nossas esperanças
da preservação dos rios e das matas. A salvação do planeta!
Todas
essas manifestações de fé refletem a riqueza da experiência humana com o
divino. Apesar das diferenças, há um fio comum que nos conecta: a busca por
significado, propósito e conexão com algo maior que nós mesmos.
Neste
tempo de Quaresma para os católicos, ouso convidar meus poucos leitores a
reconhecer e respeitar o sagrado em todas as suas formas. O exercício da fé é
como uma tapeçaria tecida com fios de múltiplas cores, cada uma representando
uma tradição, uma história, uma forma de entender e viver o sagrado. Faço
também um convite à tolerância, ao diálogo e, acima de tudo, ao respeito mútuo
que deve prevalecer entre todas as formas de expressão da espiritualidade
humana.