Pedro Lucas Lindoso
Não sei
como a meninada se comporta nos dias de hoje. As amizades infantis da minha
infância tinham um código lúdico bem peculiar. Alguém ficava magoado e
chateado. Era preciso saber se a amizade ainda persistiria ao entrevero.
Juntava-se os dois dedos indicadores e perguntava-se: corta aqui? Se o outro
cortasse era porque a amizade havia acabado!
Então
dizia-se que fulano havia ficado “de mal” com o outro. Essa técnica também era
válida entre irmãos. Minha mãe, quando
ouvia dizer que alguém estava “de mal” com outro, era taxativa:
– Podem
parar com essa estória de ficar “de mal”. Tratem logo de fazer as pazes.
Outra
técnica consistia em mostrar ao outro os dedos mínimo e indicador. Dedos esses
conhecidos também como mindinho e fura bolo. Mandava-se escolher: Esse é o mal
e esse é o bem. Se o mindinho fosse apontado, estavam “de bem”. O pedido de
desculpas estava implícito e estava tudo certo.
Mas, se
a escolha fosse pelo indicador, estavam “de mal”. E poderia ainda se ouvir:
Belém, Belém, nunca mais fico de bem!
Recebo
a visita de meu amigo Dr. Chaguinhas. Estava preocupado com sua filha. A
garota, de dezesseis anos, namorou um rapaz por quase um ano. De repente, sem
mais nem menos, o rapaz sumiu.
Estranhamente
deixou de responder às mensagens de WhatsApp. Saiu dos grupos em que a garota e
ele participavam. Não atendia mais às ligações da namorada. Saiu do Instagram e
do Facebook.
Chaguinhas
perguntou pelo rapaz e a filha caiu no choro! Preocupados, os pais foram
conversar com a menina. Ela relatou que não havia feito nada de mais com o
rapaz. Não estavam se relacionando sexualmente. Estava tudo bem no namoro. Mas
simplesmente o rapaz sumiu de seus contatos no celular.
Chaguinhas
e a esposa tentaram entrar em contato com os pais do rapaz. Tudo bem que o
namoro terminasse. Mas de forma civilizada. Sem sucesso. Os poucos amigos em
comum do casalzinho não sabiam dele. Aliás, eram amigos da garota. E todos
achavam tudo muito estranho. Uma coleguinha disse ter visto o rapaz no
shopping. E que ele fingiu não a conhecer. A garota, muito tristinha e abalada,
foi levada ao psicólogo. O diagnóstico foi de que a menina tinha sido vítima de
“ghosting”. O termo “ghosting”, vem da palavra ghost (fantasma, em inglês). Se
popularizou por definir o desaparecimento em relacionamentos, principalmente
nas redes sociais.
Ora, o afastamento sempre deve ser comunicado. Essa comunicação deve ser direta, fluida e assertiva, como a meninada da minha infância: Belém, Belém, nunca mais fico de bem!