Pedro Lucas Lindoso
Um
colega de Brasília, oficial militar, está servindo em São Gabriel da Cachoeira.
O distrito de Cucuí fica a cerca de 200km de São Gabriel. O Exército tem
presença importante por lá. Cucuí é uma grande pedra. Fica na margem esquerda
do Rio Negro, na tríplice fronteira Brasil-Venezuela-Colômbia.
Meu
amigo brasiliense está encantado com a região. Eventualmente, me manda e-mails
relatando a sua experiência no local. São Gabriel é um município
predominantemente indígena. A comunicação só não é mais precária devido à
presença do Exército. O local fica acima da linha do Equador. Portanto, está
obviamente localizado no Hemisfério Norte.
No
último dia oito de abril houve um eclipse solar total visto somente no
Hemisfério Norte. Mais precisamente nos Estados Unidos e parte da Europa. Por
uma pitoresca falha de comunicação alguém espalhou que o fenômeno seria visto
também pelas bandas de São Gabriel da Cachoeira e adjacências. Mais
precisamente do alto da Pedra de Cucuí.
Mesmo
com as explicações e desmentidos, parte da pequena população acreditou que o
sol iria desaparecer pela manhã daquela segunda-feira. O que, obviamente, não
aconteceu.
O povo
do interior fica muito impressionado com esses fenômenos. O luar é de grande importância
para os habitantes de seringais. O seringueiro vai para a mata pela noite
cortar a seringueira e colher o látex. Um eclipse total da lua pode assustar
aqueles que, por falta de instrução, desconhecem o fenômeno. A lua não pode
“dormir”. E o sol também não pode sumir durante o dia.
No seringal
Vencedor, que foi propriedade de meu avô, tanto um certo eclipse lunar quanto
um solar deram o que falar durante muitos anos. Estórias e relatos perpassaram
gerações.
No
eclipse lunar, a lua desapareceu na hora em que os seringueiros entravam pela
mata. Foi uma gritaria só. As mulheres batiam panelas e de joelhos clamavam aos
céus para a lua não morrer.
No
eclipse solar total, ocorrido há muitos anos, o furdunço foi ainda maior. As
galinhas ficaram alvoroçadas e se recolheram para dormir. As araras e tucanos
interromperam seus voos majestosos e os passarinhos em geral silenciaram.
Aliás, a mata ficou em total silêncio. Os grilos se manifestaram. E, de
repente, as sombras das árvores obedeceram novamente às determinações da luz do
sol. E voltaram com seu frescor quando o fenômeno terminou e o sol voltou a
brilhar novamente.
Segundo
o Google, o próximo eclipse total solar visível no Brasil ocorrerá em agosto de
2026. Cucuí pode esperar!