Amigos do Fingidor

terça-feira, 16 de abril de 2024

Eclipses

 Pedro Lucas Lindoso

 

Um colega de Brasília, oficial militar, está servindo em São Gabriel da Cachoeira. O distrito de Cucuí fica a cerca de 200km de São Gabriel. O Exército tem presença importante por lá. Cucuí é uma grande pedra. Fica na margem esquerda do Rio Negro, na tríplice fronteira Brasil-Venezuela-Colômbia.

Meu amigo brasiliense está encantado com a região. Eventualmente, me manda e-mails relatando a sua experiência no local. São Gabriel é um município predominantemente indígena. A comunicação só não é mais precária devido à presença do Exército. O local fica acima da linha do Equador. Portanto, está obviamente localizado no Hemisfério Norte.

No último dia oito de abril houve um eclipse solar total visto somente no Hemisfério Norte. Mais precisamente nos Estados Unidos e parte da Europa. Por uma pitoresca falha de comunicação alguém espalhou que o fenômeno seria visto também pelas bandas de São Gabriel da Cachoeira e adjacências. Mais precisamente do alto da Pedra de Cucuí.

Mesmo com as explicações e desmentidos, parte da pequena população acreditou que o sol iria desaparecer pela manhã daquela segunda-feira. O que, obviamente, não aconteceu.

O povo do interior fica muito impressionado com esses fenômenos. O luar é de grande importância para os habitantes de seringais. O seringueiro vai para a mata pela noite cortar a seringueira e colher o látex. Um eclipse total da lua pode assustar aqueles que, por falta de instrução, desconhecem o fenômeno. A lua não pode “dormir”. E o sol também não pode sumir durante o dia.

No seringal Vencedor, que foi propriedade de meu avô, tanto um certo eclipse lunar quanto um solar deram o que falar durante muitos anos. Estórias e relatos perpassaram gerações.

No eclipse lunar, a lua desapareceu na hora em que os seringueiros entravam pela mata. Foi uma gritaria só. As mulheres batiam panelas e de joelhos clamavam aos céus para a lua não morrer.

No eclipse solar total, ocorrido há muitos anos, o furdunço foi ainda maior. As galinhas ficaram alvoroçadas e se recolheram para dormir. As araras e tucanos interromperam seus voos majestosos e os passarinhos em geral silenciaram. Aliás, a mata ficou em total silêncio. Os grilos se manifestaram. E, de repente, as sombras das árvores obedeceram novamente às determinações da luz do sol. E voltaram com seu frescor quando o fenômeno terminou e o sol voltou a brilhar novamente.

Segundo o Google, o próximo eclipse total solar visível no Brasil ocorrerá em agosto de 2026. Cucuí pode esperar!