Pedro Lucas Lindoso
Segunda-feira
passada, li um edital de licitação para restauro total do Centro Histórico de
Manaus. O projeto apresentado no edital representa um antigo desejo dos
amazonenses.
Terá,
indiscutivelmente, grandioso apelo turístico. Visa transformar o Centro de
Manaus. Um retorno a arquitetura predominante no auge do Ciclo da Borracha. Uma
volta à Belle Époque.
O ponto
de partida é o Largo de São Sebastião. Descendo a Rua Costa Azevedo, indo pela
Rui Barbosa até a Praça da Polícia. Incluindo o antigo “miolo da Zona Franca”
até o Hotel Amazonas. Subindo à esquerda até os Remédios e descendo novamente
por toda a área da Joaquim Nabuco e adjacências. Na parte oeste, o projeto
partiria desde a Ilha de São Vicente, inclusive o Porto, a Catedral e a Eduardo
Ribeiro. Em princípio, todo o Centro Histórico
ficaria no mesmo padrão do entorno do Largo.
Fiz uma
visita a Curaçao. Uma bela ilha caribenha de colonização holandesa. A arquitetura da ilha é típica dos países
baixos. Predominam prédios coloniais holandeses. Todos restaurados e bem
conservados. A gente sempre se pergunta: por que Manaus não é assim?
Existem
experiências de restauro de grandes áreas urbanas no Brasil. Me veio à mente o
grande restauro do Pelourinho em Salvador, na Bahia. Uma amiga arquiteta
brasiliense me disse que o projeto original foi da arquiteta italiana Lina Bo Bardi. A princípio,
o projeto procurava preservar as relações sociais e a cultura ali existentes.
As
coisas não saíram exatamente como a famosa arquiteta desejara. Todavia, nos
anos de 1990 se iniciou um projeto de intervenção chamado "Programa de
Recuperação do Centro Histórico de Salvador". O projeto direcionava o Pelourinho para o seu
potencial turístico e econômico.
Muitos
acreditam que o centro histórico de Manaus tenha o mesmo potencial voltado para
o turismo, a famosa indústria sem chaminé. Os estudiosos apontam erros e
acertos no projeto de Salvador. Que Manaus possa aproveitar-se dos acertos e
evitar os erros. Houve desapropriações, investimentos de diversas fontes e
claro, muita polêmica. O fato é que a área ficou uma beleza e de grande apelo
turístico.
E
recebeu prêmios. A restauração do centro histórico do Pelourinho, recebeu, há
alguns anos, o Prêmio Internacional Reina Sofía de Conservação e Restauração do
Patrimônio Cultural, concedido pelo Ministério de Assuntos Exteriores da
Espanha. O prêmio valoriza projetos para a conservação e a restauração do
patrimônio histórico e cultural.
O
restauro do centro de Manaus prevê reconstrução de prédios e fachadas já
destruídas, como a do Cine Guarany. Prédios na antiga Berlim Oriental foram
recentemente reconstruídos com as fachadas de antes da guerra. Tudo é possível
com a moderna tecnologia, fotos e etc.
Ah, segunda-feira
passada foi primeiro de abril. O tal edital de restauro do nosso centro é uma
pegadinha de dia da mentira. Será que um dia sai? De verdade?