Amigos do Fingidor

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Produção de texto poético (uma introdução) – X (final)

Zemaria Pinto

50 – Clichê – um mal desnecessário. O clichê poético é o maior inimigo de qualquer poeta. Trata-se, quase sempre de uma metáfora ou outra figura de linguagem; porém é uma figura desgastada. Exemplos: a estrada serpenteia pela planície; o mar beija a praia; aurora da vida; flor dos anos; mais uma página do livro da vida; luar de prata; silêncio sepulcral.

51 – Muitas vezes, nem é figura, apenas uma combinação desgastada de um substantivo com um adjetivo: doce esperança; amarga decepção; ilustre professor; poeta inspirado; pai extremoso. Mas existem também os clichês de situação: o final feliz, a madrasta má etc. E os clichês de roteiro: as histórias policiais, as histórias de terror – de estrutura repetitiva.

52 – Exercícios de liberação da linguagem e do pensamento. Para descobrir a fala/escritura de cada um é preciso que a linguagem e o pensamento se liberem dos condicionamentos que tendem a torná-los padronizados e mecânicos

53 – Existem vários tipos de exercícios com essa finalidade. Vejamos alguns deles:

• exercício nº 1
+ relaxamento: exercícios respiratórios; alongamento
+ escreva livremente sobre o que lhe vier à cabeça;
+ não se preocupe com o nexo
+ não releia, não raciocine; não analise; deixe que sua mão/corpo conduza sua mente; não tenha medo; procure escrever o mais rapidamente possível; qualquer censura deve ser registrada;
+ esse exercício, também chamado de escrita automática, era muito usado pelos surrealistas, que pretendia “flagrar” manifestações do próprio subconsciente.

• exercício nº 2
+ livre associação – dadas três palavras, escolha uma delas e associe livremente com outras palavras – associar é estabelecer correspondência (ainda que livremente)
+ não releia, não raciocine; não analise; deixe que sua mão/corpo conduza sua mente; procure escrever o mais rapidamente possível;
+ Palavras sugeridas: espelho – punhal – tigre (temas de Borges)

• exercício nº 3
+ a partir de um determinado poema, construa um novo poema, a sua “versão”

54 – Escrever é exercitar. O exercício nº 3 pode ter inúmeras variantes. Emvezes de basear-se em outro texto, escreva sobre um quadro, por exemplo; ou sobre uma situação que você vivenciou; uma notícia de jornal; uma história que ouviu há muito tempo. Enfim, as possibilidades são ilimitadas.


55 – Lá no início nos referimos à necessidade de reunir conhecimento, habilidade e talento. Vimos vários conceitos, falamos um pouco sobre a técnica que há por trás do poema e falamos da necessidade de desenvolver uma linguagem criadora. O tempo todo estávamos falando de conhecimento (que pode ser adquirido) e habilidade (que pode ser desenvolvida). Talento – a linguagem de cada um – deve ser cultivado.

Construindo o texto poético, com conhecimento, habilidade e talento.
O cerne da criação está na interseção entre conhecimento, habilidade e talento.