Amigos do Fingidor

domingo, 17 de outubro de 2010

Recordando LORD K em Manaus

Jorge Bandeira



Assisti no CECOMIZ, o mais antigo shopping Center de Manaus, em eras passadas, segunda metade da década de oitenta do século passado, ao show da banda LORD K. Essa trupe musical tinha uma particularidade, peculiar até hoje: todos tocavam e cantavam nus em pelo, e também eram bons músicos, o que afastava o chavão de que a nudez seria apenas um caça-níquel, muito em voga naquele período pelos palcos do Norte.

A vocalista Klaudia Moras cantava nua, de uma naturalidade total ao se apresentar, como se estivesse vestindo roupas invisíveis. Não lembro se eles, durante o show, que durou mais ou menos uma hora e meia, falaram sobre naturismo ou outro tema. O ano era 1987, portanto a retomada da tradição de naturismo organizado, ligado ao legado de Luz del Fuego, estava apenas em sua infância, via Celso Rossi e Praia do Pinho.

Músicos nus, guitarrista, baixista, baterista, e uma vocalista à vontade no palco. O público amazonense teve uma boa impressão disso tudo, e nem mesmo se escandalizou por este eco tardio do paraíso perdido de seus antepassados índios. Coisas da vida e do tempo. LORD K era pura energia e descontração, sem apelativos eróticos ou outros ismos em sua postura cênica. Era uma banda de rock que não precisava de roupa nem glamour, e só.

Quem assistiu a esse show lembrará também que a equipe do programa Big-bang, com Luis Armando Fartolino e Atila Rayol no comando, registrou o show na íntegra, inclusive foi transmitido, na TV Local, sem cortes, uma verdadeira façanha, mesmo sendo o programa às 23h00. Foi um marco em nossa TV, tenho certeza. Infelizmente aquelas imagens históricas foram apagadas por questões contratuais depois de seis meses, segundo me confidenciou (agora já era segredo!) o Fartolino, numa conversa animada que tivemos anos passados, num lanche aqui na esquina de casa. Que pena.

A nudez, é importante lembrar, não era tão perseguida naquele período do auge do rock brasileiro, nos anos 80. Basta lembrar do programa da Mara Maravilha, que volta e meia tinha aquelas coreografias com as crianças e até mesmo as pré-adolescentes com o despojamento do vestuário (usando somente a parte de baixo, por exemplo).

Isso demonstra uma coisa: regredimos, em meu ponto de vista, na tolerância para a nudez natural e avançamos para a nudez SENSUAL E EROTIZADA. Não me perguntem a causa, pois são várias, e este artigo é apenas de reminiscências, de recordações de um antigo show de uma antiga banda de rock, LORD K. Seguramente recordo da única entrevista da banda num jornal local, A Crítica, onde ele, LORD K (que era casado com a vocalista Klaudia!) respondeu sobre como era expor a própria esposa nua naqueles shows, geralmente lotados. O Sr. K disse que era muito natural, pois a exposição direta não existia, uma vez que Claúdia não havia posado nua para Playboy ou Ele&Ela. Resposta direta e inteligente do Sr. K, colocando a nudez natural de sua mulher no panteão das grandes causas do Naturismo, mesmo sem o ser ou não saber que era. Só eu, dizia ele, posso expor, verdadeiramente, a Klaudia, através de minha volúpia e concretização do ato da carnalidade, pelo menos enquanto estamos juntos nesta união concedida por ambos, este pacto entre os seres que se amam.

Disse tudo o Sr. K. Sinto saudades, confesso, de um show daquele naipe, daquela grandeza, mas acho que hoje a imoralidade musical abrandou a nudez de nossos palcos. Já falei, inclusive, sobre isso: é cada vez mais difícil termos esta dignidade da nudez de volta, e a arte, assim, vai perdendo sua historicidade. Alguém aí conhece um(a) modelo-vivo(a) que posa nu(a) hoje em dia?

Em 1991, portanto depois da febre inicial, a Playboy consegue fisgar Klaudia Moras, que posou nua em uma das edições daquele ano.














Klaudia Moras, vocalista da banda de rock LORD K, em pose para a Playboy.