Amigos do Fingidor

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Terra caída

Rogel Samuel*


Trágica lembrança essa do famoso poema de Álvaro Maia, “Terra caída”, no episódio recente do desbarranco ocorrido em Manaus:

Na outra margem, na enseada esbatida nas brumas,
rolam blocos de terra em dolente estertor
com frondes e sopés, flores e sumaúmas...
O rio estoura e ferve em torvelins de espumas,
e pranteia o infortúnio em regougos de dor...

O título também é do romance de José Potiguara e da obra de Eider Pestana.

Álvaro Maia era um excelente poeta, hoje esquecido, até recusado pela crítica amazonense. Ele marcou o que se pode chamar de neo-romantismo na poesia amazonense.

O poema é enorme e não vou transcrever aqui.

Ninguém como ele para conhecer o fenômeno das “terras caídas”.

No seu romance “Beiradão”, a isso se refere:

Seguindo essa perspectiva de restabelecimento, o sítio de Fábio também atinge uma prosperidade, atestando que “[...] havia tranqüilidade na pobreza, a fartura na relatividade, a comprovação da vida no interior verde, afastando o tabu da vida unicamente apegada ao extrativismo [...]”.(89) As ações de Fábio na administração de sua propriedade comprovam ainda um planejamento racional, à medida que não somente busca outras alternativas econômicas, além da monocultura, mas também se previne de surpresas que possam ser causadas pelos acidentes naturais próprios da estrutura geológica da região, plantando cacauais em restingas altas, longe, portanto, das margens afetadas pelo fenômeno das terras caídas.

Eu cito: Lucilene Gomes Lima. Ficções do ciclo da borracha no Amazonas: Estudo comparativo dos romances “A selva” (FERREIRA DE CASTRO), “Beiradão” (ÁLVARO MAIA) e “O amante das amazonas” (ROGEL SAMUEL). Manaus, Editora da Universidade do Amazonas, 2009. 240p.

(*) Publicado originalmente no blog de Rogel Samuel.