Amigos do Fingidor

segunda-feira, 7 de março de 2011

Algumas palavras sobre a poesia de Nelson Castro

Jorge Tufic

Pensamento e afeto verbal estruturam, numa só cadeia temática (o ser, a falta, a ilusão e a possibilidade), estes dez poemas de Nelson Castro, escolhidos pelo autor como parte do “quinta estação”, uma antologia poética do Clube Literário do Amazonas (Clam), cujo lançamento esteve anunciado pelo Flifloresta (festival literário internacional da floresta), mas que fora adiado.

Poemas feitos para dizer, ou escritos para ficar, a reflexão e a palavra desbravam, neles, o caos do interdito e a turbulência do poliedro abissal do universo, deslumbrando-se, no entanto, diante da metáfora (ou metaphora), que logo abandona o casulo da lógica formalista pelo toque da poesia. O modo coloquial disfarça e humaniza os labirintos da especulação filosófica, o diálogo entre Fedra e Eupalinos, Safo e os rochedos de sua ilha se vão deixando incorporar numa linguagem de todos.

Cada um desses poemas, contudo, distingue-se dos outros pelo seu conteúdo, mantenha embora a leveza do arcabouço, sístole e diástole como no poema “o flautista”, tendo-se em mira, sobretudo, a unidade do bloco, sem qualquer fissura, decididamente pronto para tornar qualquer livro do gênero numa obra duradoura.

Na qualidade de leitor, porém, impressiona-me a determinação de “o ilusionista”, “Livro Mater”, “ad infinitum” e “Para sempre”, nada podendo contra os demais, donos de força própria, coesão, solidariedade.

Nelson Castro é um poeta que vigia e capta os movimentos do sonho, a claridade dos gestos humanos, o silêncio das rosas e a fúria contida do átomo. Não é possível comentar sua poesia de uma janela tão estreita como essa, donde se avista apenas uma nesga do imenso valor que ela transmite. O restante há de ser matéria de uma outra crítica, realmente especializada.

Se falo alguma coisa é simplesmente um testemunho da luz que me torna um outro, muito mais diferente do que sou, depois que o li. Obrigado, Nelson.