Amigos do Fingidor

quinta-feira, 10 de março de 2011

Doenças: em busca do invisível aos olhos

João Bosco Botelho


O médico Marcelo Malpighi (1626-1696) trouxe a doença da macroestrutura para a microestrutura e ofereceu novo norte à Medicina. Para ter idéia do valor das idéias de Malpighi é indispensável saber que a maior parte das ações de saúde, na atualidade, é alicerçada no diagnóstico micrológico dos tecidos, isto é, a busca da infecção ou do tumor.

O médico italiano foi auxiliado por algumas variáveis importantes. Além do estímulo coletivo de busca do invisível atrás da pele que contagiou a Europa renascentista, os primeiros estudos da óptica foram fundamentais para que pudesse ser montado o microscópio. A importância do uso das lentes de aumento, na Medicina, pode ser comparada ao vapor como fonte de energia para o desenvolvimento da indústria.

O conjunto das novas observações consequentes da utilização do microscópio foi tão grande e em espaço de tempo tão pequeno, que se formaram muitas associações científicas, onde eram comunicadas e discutidas as descobertas em torno da microestrutura do corpo humano. Entre as aplicações imediatas das novas observações é possível destacar a identificação do ácaro como agente causador da sarna. Essa doença da pele, conhecida desde os tempos bíblicos, estava incluída entre as doenças aceitas como contagiosas, mas até então não se tinha explicação para a transmissão. A identificação do ácaro tornou-se a primeira comprovação de que o microorganismo podia ser a causa de uma doença.

O entusiasmado pressuposto de que todos os problemas da saúde seriam resolvidos pelas "demonstrações visíveis" acabou engendrando o distanciamento entre o médico e o doente. Muitos dos valores da relação médico-pacientes foram atingidos pelos aparelhos postos entre ambos. A crítica da Medicina mecanicista atingiu consolidação adequada com as publicações de Thomas Sydenham (1624-1689). Nos últimos anos da sua vida, esse médico genial defendeu arduamente a presença do médico na cabeceira do doente, utilizando os recursos que pudessem auxiliar na cura.

Existe incrível atualidade nessa questão. A persistência da atitude mecanicista dominando os rumos das ações de saúde coloca por terra o papel humano e de agente de transformação social que o médico deve ter.