Amigos do Fingidor

segunda-feira, 28 de março de 2011

As histórias de Elisa Bessa

Jorge Tufic

 Histórias ou estórias, é povo e tradição. Etimologicamente corretas, trate-se aqui de contar um fato social, ou, quando com H, de acontecimento histórico. À margem disso, e apesar de nunca haver escrito nada, à guisa de prefácio, sobre contos deste gênero, mas como simples leitor, eu diria que Elisa Bessa, tanto quanto lhe ocorrera na tese de mestrado, no ensaio acadêmico ou em seu encontro com a poesia, estréia-se bem, e muito bem mesmo, com este “Histórias para minha tia dormir”, doze textos que parecem repetir a façanha de Hércules, pois todos se alinham e se festejam numa cadeia de sucessos narrativos.

Surpreendem, assim, o engenho e a arte da ficcionista ao juntar, num só bloco, os mais diversos recursos de técnica, saber e linguagem, sem lhe faltarem, neste processo, os necessários condimentos da ação, a par do tempo medido entre a fábula e o difícil flashback. Pequenos contos ou estórias, pequenos “romances”, cujos resultados são sempre imprevistos, já que se emolduram como sínteses do que resta para ser intuído e completado na imaginação dos leitores.

Orientando-se no sentido clássico da trajetória poética, ou, como quer Nelly Novaes Coelho, “partindo do princípio de que a educação da criança visa basicamente levá-la a descobrir a realidade que a circunda, a ver realmente as coisas e os seres com quem ela convive”, a autora deste livro chega, inclusive, a inovar por um tipo de realismo fantástico que, rastreando os modernos avanços da ficção, nos leva ao suspense quando faz soar uma nota festiva de encantamento e descoberta. Assinalo, aqui, os dois primeiros contos sob os títulos “A menina que não sabia imaginar” e “Trocam árvores por ar condicionado”, liberando-se, daí, a sugestiva temática das peças restantes, numa vitoriosa sequência de abordagens fundamentais, quer no plano da cultura educativa, quer no de nossa responsabilidade frente aos bens terrestres que se perdem na voragem das queimadas. A construção e a invasão surrealista de um shopping (segundo conto antes mencionado), também é uma prova dos grandes momentos que vivenciamos com a leitura dessa obra.

Afinal, quais foram as principais personagens da literatura universal, senão fadas, bruxos, mágicos, guerreiros, piratas e navegantes? E donde surgiram as figuras das “Mil e Uma Noites”, com tantos efeitos especiais, mágicas e deslumbramentos? Que eles estejam de volta, portanto, neste passeio maravilhoso, devendo-se, contudo, escalar sem pressa os degraus de cada uma dessas histórias contadas por Elisa. A linguagem, hoje, tem a seu dispor tecnologia de ponta e cenários de época, a exemplo de nosso quotidiano invisível e de nossas necessidades visíveis. Por esse motivo, não estranhe o leitor se, ao chegar ao fim destes relatos, já não se recorde das partes, fragmentos de uma sinfonia capaz, também, de ser ouvida pelos olhos, como dissera da paisagem amazônica o grande cientista e escritor Adriano Augusto de Araújo Jorge.